Augusto Rocha
Sob os bloquetes encravados na Rua Barão do Rio Branco, no Centro Histórico de Pedro Afonso, está preservada uma boa parte da história da cidade. Casas e prédios ali construídos formam uma espécie de ‘museu não oficial’, onde estão guardadas ‘peças’ importantes da memória pedroafonsina.
Com quase 50 anos de fundação, Bancrévea Clube,o Tiro de Guerra, instalado há mais de cinco décadas, a Igreja Batista, a Igreja Matriz de São Pedro, e a Câmara Municipal, criada para abrigar a casa do juiz da cidade, onde começou a Escola Pádua Fleury, e também funcionou a Escola Jandevan, a Empresa de Correios e Telégrafos, na época do Código Morse, contribuem para a preservação da história pedroafonsina.
Outras instituições também surgiram na Rua Barão do Rio Branco, mas não existem mais. É o caso do Lar de Nazaré, ligado a Igreja Católica e que funcionava onde hoje está um lote vago. Também havia um posto médico e o Abrigo dos Idosos. A Petrobras foi instalada onde funcionavam os Correios.
Brincadeira de criança
Ao longo do tempo, vários personagens deram um toque todo especial à vida cultural e ao imaginário popular da Rua Barão do Rio Branco. Um desses era o fazendeiro José Zanina, pai do médico Pedro Zanina, que prendia a atenção da criançada e atiçava a curiosidade infantil ao contar estórias carregadas de mitos e lendas. “Aquilo ali era célebre. Tinha história de mula sem-cabeça, a besta-fera, Martinta Pereira. Era o ponto célebre da noite”, recorda-se a ex-primeira-dama de Pedro Afonso Odina Maranhão Sá de Andrade, de 64 anos.
Em um tempo em que as crianças pedroafonsinas não tinham acesso a videogame, computador, nem brinquedos eletrônicos, as brincadeiras e atividades se concentravam na Rua Barão do Rio Branco e no rio Tocantins. “A gente viveu nesta rua. A infância da gente foi aqui. Andar de bicicleta, tomar banho no rio, participar de brincadeiras sadias. A nossa infância foi vivida. Tinha o banho de meio-dia. A gente ia dar um mergulho no rio. Dava um e acabava dando 20,30. A mãe gritava para ir para a escola. Era antes do almoço, ao meio-dia”, relembrou.
E as brincadeiras avançavam até o escurecer. A “andorinha”, o tradicional “pique-esconde”, era uma das atividades lúdicas que as crianças mais gostavam de fazer, na rua. “Tinha a noite de luar. A dona Regina, esposa do seu José Zanina, pegava toda a criançada e ia pro rio. Na época em que o rio não estava cheio. Era uma festa”, afirmou dona Odina.
Quando já tinham entrado na adolescência, os jovens se divertirem nas próprias casas dos vizinhos. Eram os tempos dos vesperais, frequentados por rapazes e moças, nas residências de amigos, e que aproveitavam para dançar por longas horas. Nessas ocasiões, alguns casais iniciavam uma discreta paquera. “Tinha os vesperais, que começavam duas, três horas da tarde. A gente dançava até a boca da noite. Não tinha bebida, não tinha cigarro. Tinha matinês de carnaval, nas casas. Praticamente todos os prefeitos moraram nela (na rua Barão do Rio Branco), delegados”, destacou Odina Andrade.
Personagem marcante
O ex-prefeito Florisval Rêgo, que teve um mandato-tampão de dois anos, foi um dos que entraram para o folclore da rua. Ele mantinha “A Voz do Tocantins”, um sistema de autofalantes que era a sensação dos moradores em um tempo em que não havia emissora de rádio, na cidade, e poucas famílias tinham televisão. Graças ao serviço prestado à população e ao carisma como comunicador, ele conseguiu se eleger. “Ele colocava uma música, dava notícias. Não tinha medo de criticar. Ele desafiava delegado de polícia, comandante de Batalhão e escrevia muito bem”, recorda-se dona Odina.
Em muitas rodas, várias pessoas contam causos que envolvem o jeito peculiar de Florisval Rêgo, que também foi dono de cinema, na cidade. O personagem folclórico é lembrado e reverenciado até mesmo por antigos moradores que se mudaram de Pedro Afonso e estão em Goiânia, Brasília ou Palmas.
Em 1950, segundo dona Odina Andrade, havia cerca de 50 moradias, na Rua Barão do Rio Branco. E aqui, uma casa centenária chama atenção pela beleza e conservação arquitetônica. É essa a residência da senhora Dionéa Sá, que guarda várias histórias da família e da cidade. “Todo mundo nasceu aqui, eu, meus irmãos. Meu avô morava aqui, desde a década de 30, na época da Revolução. Ele foi preso nesta casa. Ele fugiu pelos fundos, no rio”, contou.
Influência
De acordo com dona Odina Andrade, a Rua Barão do Rio Branco foi onde começou Pedro Afonso. Foi graças à via que o aglomerado urbano teve surgimento. “É uma característica das cidades ribeirinhas. Pela proximidade da água, foram crescendo em L”, justifica.
Dona Odina conta que já houve até tentativas de mudar o nome da rua para homenagear alguém da cidade. Antes, a via se chamava Rua Grande, por ser larga. Moradores já tentaram fazer o tombamento da Barão do Rio Branco, mas ainda sem sucesso. O nome teria sido mudado por volta de 1912, ano da morte do Barão do Rio Branco, ou pouco tempo depois. “A gente já tentou (tombar). As pessoas acham que isso é besteira. Ela recebeu o nome depois da morte do Barão do Rio Branco. Ela era chamada de Rua Grande. Já houve tentativas de mudanças do nome da rua para alguém da cidade. Mas é um nome histórico”, defende.
Para dona Odina, a Rua Barão do Rio Branco exerceu e ainda exerce grande influência na história de Pedro Afonso. Segundo ela, poderia render um livro e até um filme. “O povo relembra muito das histórias. Se a gente for parar para escrever a história dessa rua, tem coisa demais”, finalizou a ex-primeira de Pedro Afonso.