Augusto Rocha
Histórias e lembranças povoam as mentes de diversos moradores da Rua Barão do Rio Branco, em Pedro Afonso. Sendo uma das vias mais históricas da cidade, as casas e prédios ali construídos formam uma espécie de ‘museu não oficial’, onde estão guardadas ‘peças’ importantes da memória pedroafonsina.
O morador Antônio Lisboa Vanderlei Filho, 53 anos, conta que, quando se mudou com a família para a Rua Barão do Rio Branco, quase em frente à Câmara de Pedro Afonso, o local era bem diferente. “Era muito sofrimento com a poeira. Era poeira demais. Não tinha esse calçamento. Ali na Praça Coronel Lysias Rodrigues, onde tem o banco mercantil, tinha uma aldeia de índios. Mudou demais a cidade. Cresceu muito. Desenvolveu bem”, reconheceu.
Dona Adelaide Carmo Vanderlei, de 87 anos, se mudou com o marido, Antônio Lisboa Vanderlei, de Riachão (MA) para uma fazenda, em Pedro Afonso, onde residiram durante cinco anos. A mudança aconteceu em 1952. O casal veio com os dois filhos (José Lisboa Vanderlei e Edmar Vanderlei Amorim), que nasceram na terra de origem.
Depois de fixarem residência no então Norte Goiano, eles se mudaram para Bom Jesus do Tocantins, em 1958. Dois anos mais tarde, se estabeleceram na Rua Anhanguera, outra histórica via pedroafonsina. E de lá, eles fixaram moradia definitiva, em 1970, na Rua Barão do Rio Branco. E desde então, já são mais de 40 anos no mesmo endereço.
Após se fixarem no Norte Goiano, dona Adelaide e seu Antônio tiveram mais um casal de filhos (Maria Paz Vanderlei Santos e Antônio Filho) e adotou outro, Getúlio Souza Cardoso. Quando o marido decidiu vir para a região, ela conta que ficou muito triste, pois toda a família estava no Maranhão. Mas, após a mudança, se acostumou com a nova realidade e aprendeu a gostar de Pedro Afonso. “Era muito atrasadinho, mas melhorou muito. Quando cheguei aqui, ali (apontou em direção ao Setor Aeroporto) era o aeroporto. Tinha linha da Varig. Pra acolá (no Setor Aeroporto 1), era mato. Tudo era mato. Lá no Setor Maria Galvão era a chácara nossa de tirar leite”, relembra a matriarca da família Lisboa Vanderlei.
Os primeiro anos na região foram cheios de desafios para a família. Segundo dona Adelaide, enquanto o marido ficava na fazenda, ela precisava se desdobrar para cuidar da casa e dos filhos. “Ele trabalhava na zona rural e eu trabalhava em casa. Tinha que fazer comida para levar os meninos para a escola. Além dos meus (filhos), tinha os dos outros. Eu cozinhava na lenha, no caipira. Água tinha que buscar no rio. Não tinha gás, não tinha energia. Era lamparina. O arroz saía pisado no pilão. Não tinha máquina para limpar arroz. Carro, só tinha o trator do Antônio Noleto. Era difícil. Era muito sofrimento”, confidenciou.
Quando olha para os desafios que foram superados e observa o presente, com muita tecnologia, dona Adelaide revela que tudo parecia ser um sonho bem distante. “Agora, a água está aí aos montes (na torneira), graças a Deus. Tenho geladeira, tenho bebedouro, energia elétrica. O povo falava (no conforto), mas a história era um sonho. Parecia um sonho”, reforçou a moradora, que é também avó materna do médico Vagner Vanderlei.
Em 2003, dona Adelaide ficou viúva. Hoje, ela mora com o filho, Antônio Lisboa Vanderlei, que tem o mesmo nome do pai. Simples, ela conserva bom humor. “Ainda leio sem óculos, escrevo, e faço meus negocinhos de casa, as compras”, afirmou.
Católica praticante, dona Adelaide diz que já viu muitas procissões passarem pela Rua Barão do Rio Branco. “Andava muito nas procissões”, disse ela, que confirma ter participado de várias edições da procissão fluvial, em comemoração ao Dia de São Pedro, padroeiro de Pedro Afonso.
Para dona Adelaide, a Rua Barão do Rio Branco é sinônimo de laços profundos de amizade, e também de boa vizinhança. “Os vizinhos são gente boa. Essa rua aqui é tudo gente boa”, garante a bem-humorada idosa.