Educação e Cultura

OPINIÃO DO LEITOR

Joga pedra nas Genis

16/08/2022 14h46 - Atualizado em 18/08/2022 17h03

Gustavo W. Santa Cruz é advogado

Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita para apanhar!
Ela é boa de cuspir!


Versos poderosos de “Geni e o Zepelim”, de Chico Buarque, música que imprime a triste realidade de um ser excluído e marginalizado em uma sociedade vil e intolerante nos idos de 1940. Chega a causar arrepios na alma pensar nas dantescas injustiças perpetradas outrora contra qualquer um que ousasse ter qualquer opinião diversa e postura transgressora.

Quedamos horrorizados ao pensarmos quão difícil era viver em momentos da história onde a informação era difusa, grande parte da população apresentava grau de instrução rudimentar, e nos maravilhamos diante do panorama atual onde todos soam extremamente articulados, e um enorme manancial de conhecimento está a um clique de distância.

Ledo engano achar que a era da tecnologia, a vasta disponibilidade de conteúdo e a acessibilidade maior ao ensino superior enterrou nossos tempos de ojeriza social. Muito pelo contrário. Se no passado apedrejávamos em praça pública, atualmente a prática do “cancelamento” promove uma nova modalidade de agressão: o linchamento virtual.

Cada dia é mais comum pessoas terem sua dignidade assaltada e autoestima violada por uma palavra, um gesto ou a simples emissão de ponto de vista contrário. É utópico pensarmos que uma pandemia iria nos transformar em pessoas melhores. quando hoje uma simples brisa se transforma em uma guerra nuclear, seja por alguém ser manifestar se é de esquerda ou direita, acreditar que a terra é plana, ou simplesmente torcer por um time contrário.

O bom senso parece ter sido abandonado na terra onde todos falam sentenciando, tornando impressionante que uma música de quatro décadas atrás tenha transcendido o painel histórico e temporal, e ainda seja usada como analogia às condutas atuais, momento em que essas práticas primitivas deveriam ser apenas tristes memórias.

Talvez seja por que Geni não espelhe apenas a desinformação das massas, mas também a hipocrisia. Nos dias atuais, a cultura narcisista valoriza mais a aparência, a orientação sexual e a posição políticas do que, de fato, a natureza de cada um.

A discussão deve ser estimulada, o conhecimento perseguido mas acima de tudo, a dignidade humana deve ser respeitada, e as Genis do hoje deixarem de ser apedrejadas, para enfim, terem a oportunidade de nos salvarem não de canhões e zepelins, mas da intolerância e ignorância.


 

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