Gabriel Dias e Fred Alves
Desde que recebeu a implantação do Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados (Prodecer III), em 1996, Pedro Afonso viu sua economia saltar e passou a configurar entre as maiores participações no Produto Interno Bruto (PIB) do Tocantins. O projeto representou o que muitos consideram o “renascimento” da cidade como polo comercial e agrícola, e também deu origem a estruturação do setor do agronegócio no estado.
O Prodecer é o mais antigo programa governamental agrícola do País. Foi criado na década de 1970. A etapa III foi implantada no Tocantins no ano de 1996, em Pedro Afonso. A introdução do programa no Estado contou com o apoio da Japan International Coorperation Agency (Jica) e fez parte de um acordo bilateral entre o Brasil e o Japão. O programa foi idealizado para a produção de grãos, numa área de aproximadamente 40 mil hectares, principalmente focado em atender as necessidades de outros países. São 21 projetos do Prodecer III, com cerca de 800 famílias assentadas, divididos nos estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Maranhão.
A Companhia de Promoção Agrícola (Campo), foi empresa coordenadora de implementação do Prodecer III, e há 30 anos é presidida por Emiliano Botelho, que em julho, data que o programa completa 26 anos no Tocantins, visitou Pedro Afonso e a Cooperativa Agroindustrial do Tocantins (Coapa).
Na oportunidade, Emiliano Botelho falou com exclusividade ao Portal CNN sobre as razões de Pedro Afonso ter sido escolhida como projeto-piloto no Tocantins, revelou que a princípio a cidade não era cotada para receber o projeto e deu detalhes curiosos sobre a importância do ex-prefeito de Pedro Afonso, José Edgar de Castro Andrade, para que o projeto, de fato, fosse implantado na cidade.
“Não tinha Prodecer para o Tocantins, tinha para o Piauí. Os japoneses são muito firmes nas decisões. Nós fomos para o Piauí conversar com o governador Alberto Silva, mas ele queria ajuda com outra demanda que era tornar navegável o Rio Paranaíba. Com isso, surgiu o Tocantins. Contratamos uma equipe de altíssimo nível na Embrapa para selecionar aqui no Tocantins dez cidades possíveis para implantar o Prodecer e eu confesso que Pedro Afonso não era o favorito. Eu estava visitando Balsas [MA], que na época implantou o Prodecer, então surgiu lá em cima da serra da Penitência, na fazenda da sede da SRC, o seu Zé Edgar que chegou e falou: Você precisa conhecer Pedro Afonso. Então conheci Pedro Afonso e gostei. Daí veio a missão japonesa para consolidar isso. Teve um dia que o Zé Edgar começou a soltar foguete e disse que enquanto não fosse tomada a decisão ele não pararia de soltar foguete. Então, a decisão foi tomada”, comentou o executivo sorrindo.
O presidente ressaltou também que a implantação do projeto teve alguns erros, como todo programa dessa magnitude teria, mas os acertos foram maiores, inclusive com a criação da Coapa, pois o Prodecer exigia que tivesse uma cooperativa com mais de 20 anos de experiência. Ainda durante a entrevista, Emiliano Botelho falou sobre a dificuldade da implantação do projeto no Tocantins por falta de banco e pela instabilidade econômica que o País atravessava.
Chegada em Pedro Afonso
Segundo o presidente da Campo, o Prodecer transformou a economia de Pedro Afonso, uma cidade que na época enfrentava grandes dificuldades. ““Quando nós viemos para Pedro Afonso, que era uma cidade que estava estagnada do ponto de vista econômico e sem perspectivas para seus moradores, ganha o poder público sobre a forma de impostos, ganha o profissional liberal, ganha educação, ganha a área da saúde, pois eu mesmo vim trazer um cheque da Jica para aparelhar o hospital. Os japoneses cumpriram fielmente tudo aquilo que foi acordado. Para o Prodecer III no Tocantins e Maranhão, eu passei um mês no Japão negociando taxas de juros. São três volumes: recorde de escacha, o PA, que é o planejamento agrícola, e o PL que é o planejamento financeiro. Então cumpriram fielmente. Para nossa alegria não tem um palmo de terra que não esteja plantado”, pontuou.
Siqueira Campos
Ele ainda comentou sobre a importância das decisões do então governador Siqueira Campos para que o projeto ganhasse estrutura no Tocantins. “O governador Siqueira Campos fez mais do que estava na proposta. Aqui as decisões do governador foram de extrema importância, por exemplo, o ato corajoso dele de desapropriar os silos e entregar posteriormente para a Coapa. Foi um apoio que fez muita diferença. Só ao Japão, fomos juntos umas quatro vezes. Siqueira Campos sempre revelou ser um líder”, lembrou Emiliano Botelho.
Resultados
Emiliano Botelho comentou ainda que depois da criação do estado, a implantação do Prodecer III foi o principal ato que aconteceu no Tocantins. “O Tocantins antes plantava três mil hectares, hoje planta mais de 1 milhão de hectares, muito disso com o impulso do projeto. Com o Prodecer a cidade de Pedro Afonso, por exemplo, mudou sua geografia, mudou característica da cidade, emprego e renda. Isso também vale para todo o estado”, ressaltou.
Coapa
Sobre a Coapa, fundada por agricultores do Prodecer III, Emiliano Botelho contou um pouco sobre sua relação com o atual presidente, Ricardo Khouri, e sobre o crescimento da cooperativa.
“Eu conheço o Ricardo há muito tempo. Então quando criou a cooperativa e o Ricardo assumiu tinha certeza absoluta que não tinha erro, mas não imaginava que ia crescer tanto. Hoje é a maior cooperativa do norte e nordeste do País em faturamento e movimento. Agora está na hora do segundo passo: a industrialização, verticalizar o que é produzido aqui, sobre a forma de ração, de óleos, silvicultura, projetos agrícolas. Então, tudo isso está na mão. Então nós vamos contribuir muito para continuidade disso ao industrializar aqui. Eu assustei quando vi Pedro Afonso, pois melhorou muito”, comentou.
Amizades
No final da entrevista, Emiliano Botelho falou sobre as amizades que construiu em Pedro Afonso e agradeceu pelo acolhimento.
“Encontrei uns dez amigos do Prodecer III aqui e soube que outros morreram, mas é com muita alegria que os reencontro. Quero agradecer a comunidade pelo acolhimento e dizer que Pedro Afonso foi muito bem escolhido para a implantação do projeto. Tenho certeza que Pedro Afonso ainda vai colher muitos frutos”, finalizou. (Colaborou Mavi Alves Costa e Silva)