Gabriel Dias
Quando resolveu colocar sua moto, modelo Honda Biz, para vender no valor de R$ 12.250,00 em uma plataforma de compras e vendas online, Jeovane da Silva Ferreira, que mora em Pedro Afonso, não imaginava que seria mais uma entre as milhares de pessoas que todos os dias são expostas ou e tornam vítimas do chamado golpe do intermediário.
Jeovane da Silva contou que logo após o anúncio foi acionado por um suposto comprador, que se apresentava como Fernando e iria usar o veículo para fazer negócio com uma mulher da cidade de Bom Jesus do Tocantins, cidade vizinha a Pedro Afonso.
“Eu tenho uma moto para vender e um suposto comprador entrou em contato comigo falando que tinha interesse em comprar, pois iria trocá-la em um lote com uma mulher. No dia seguinte, ele entrou em contato comigo de novo e falou que a mulher queria olhar a moto, mas eu não poderia falar sobre valores com ela, pois corria o risco dela desistir do negócio. Ao chegar lá, ela viu a moto e o cara me enviou um comprovante de transferência no valor de R$ 12.250,00, porém era falso e o dinheiro nunca caiu. Ao mesmo tempo que ele fazia negócio comigo, ele também conversa com a mulher que compraria a moto por R$ 5 mil”, explicou.
O golpe estava arquitetado para que as duas vítimas não desconfiassem de nada. De acordo com Jeovane da Silva, que não passou o veículo para mulher, ele e o suposto comprador conversaram via WhatsApp. Ao Portal CNN, ele apresentou o falso comprovante de transferência que teria recebido e o contato do suposto fraudador, que logo após a tentativa do golpe o teria bloqueado na rede social. Segundo o dono da moto, o suposto golpista pediu para que ele retirasse o anúncio da plataforma e que a mulher chegou a pagar R$ 5 mil ao golpista, que teria entrando em contato com ela por meio de um anúncio clonado.
Arquitetura do golpe
O “Golpe do Intermediário” começa com a busca pelo anúncio do veículo que será envolvido no golpe. De acordo com a plataforma OLX, geralmente os fraudadores procuram por veículos seminovos, com ótimas condições de uso e de anunciantes não profissionais, já que isso aumenta as chances de sucesso da ação.
Com o anúncio definido, o fraudador então passa para a negociação com a primeira vítima: o vendedor do veículo em questão. Ele inicia a conversa com uma proposta, relacionando o pagamento do automóvel a uma suposta dívida de um terceiro, por exemplo. Durante esse processo, o fraudador pede ao vendedor do veículo sigilo absoluto sobre o valor negociado entre eles.
Depois de simular a negociação, o golpista faz a clonagem do anúncio. Ele cria um anúncio semelhante ao original, porém com um preço bem abaixo da média de mercado. De acordo com o OLX, com o anúncio falso do veículo devidamente publicado, o fraudador pode ir para a negociação com a segunda vítima do golpe, o comprador. Nessa etapa, ele começa a conversar com possíveis compradores – que em breve estarão envolvidos no golpe.
Olhar o veículo
A partir da solicitação do comprador para checar o veículo, entra em cena o próximo passo do golpe: o encontro entre as duas vítimas. O fraudador marca dia, horário e local para esse encontro acontecer. Nessa etapa, segundo o sistema de segurança da OLX, para garantir o bom funcionamento do golpe, o golpista descreve a primeira vítima (vendedor) como algum familiar ou amigo que irá mostrar o veículo. E a segunda (comprador), como alguém que vai pagar uma dívida por meio da compra do produto. Por isso, a orientação para ambos é não conversar sobre valores durante o encontro.
Repasse do veículo
O golpe do intermediário será concretiza quando o comprador transfere o dinheiro para o fraudador – até então conhecido como vendedor pela vítima. Com o pagamento feito, o comprador começa a cobrar a transferência dos documentos do veículo, e aí se anuncia o golpe. O fraudador pode até mandar um comprovante falso de transferência para o vendedor vítima, mas após consultas bancárias em que o dinheiro não aparece na conta as duas partes percebem a fraude. Durante as negociações, o fraudador jamais aparece fisicamente para nenhuma das vítimas, atuando apenas como intermediário desse processo. Nesse golpe, tanto o comprador quanto o vendedor são vítimas.
Prevenção
A delegada da Polícia Civil do Tocantins Milena Lima orientou que é necessário observar a narrativa criada durante as negociações, além de prestar atenção nos dados bancários que são disponibilizados para que a transação seja efetuada.
“A principal dica é não efetuar o pagamento para conta em nome de terceiros, antes de confirmar pessoalmente com o proprietário e possuidor do veículo se aqueles dados da conta foram fornecidos por ele. Geralmente os golpistas utilizam uma narrativa que justifique sua ação intermediária e induz que as vítimas não comentem entre si o que foi conversado com o criminoso. Assim, o comprador efetua o pagamento para um terceiro e só descobre o golpe quando mostra o comprovante para o verdadeiro proprietário que desconhece o beneficiário do valor”, comentou.