Ewerton de Oliveira Batista
Médico Veterinário
CRMV -GO 1896
Em visita à Fazenda São Bento, de propriedade do Sr. Émerson José Meneguetti, no município de Santa Maria do Tocantins, nos deparamos com um fato raro.
Uma fêmea bovina raça Nelore, com idade entre 5 e 6 anos, na sua terceira gestação, sofreu um aborto espontâneo. A curiosidade é que era uma gestação gemelar, e os fetos pareciam ter idades gestacionais diferentes, o que seria um caso de superfetação.
A Superfetação é um fenômeno, no qual uma fêmea mesmo estando prenhe, concebe uma nova gestação meses ou semanas depois da primeira, ficando assim fetos em estágios diferentes de desenvolvimento.
Partindo do princípio que existem pelo menos três grandes impedimentos biológicos para que isso aconteça, daí o motivo de eu ter chamado de fenômeno!
◦ Quando uma gestação se estabelece, o organismo produz hormônios para manutenção desta gestação e que são antagônicos aos hormônios necessários a ovulação.
◦ O útero gravítico produz uma barreira mucosa, chamada de muco tampão, que sela a entrada da cérvix, protegendo a gravidez, o que impediria de o sémen de uma cópula posterior chegasse até o óvulo.
◦ Novamente, os hormônios conflitantes impediriam que um novo óvulo se implante em útero já ocupado.
Dito isto, tal fenômeno é muito, muito raro, tendo somente 5 casos relatos em humanos em todo o mundo.
O que pode acontecer com mais frequência e causar confusão são fetos gerados no mesmo momento, mas sofrerem nutrição diferentes por desenvolvimento de mais ou menos placentomas em cada placenta. Uma gestação normal tem em torno de 120 placentomas. Em uma gestação gemelar pode haver uma divisão irregular desses placentomas, fazendo com que um dos fetos receba um número bem menor de placentomas, resultando em uma nutrição deficiente o que daria a impressão de idade gestacional menor que o outro feto bem nutrido.