A entrega de roupas e cestas básicas às famílias Akwé (Xerentes) atingidas pelas cheias do rio Tocantins, ocorreu na tarde de terça-feira, 7, em Tocantínia, município a uma hora da capital e próximo às aldeias Xerentes. As doações foram arrecadadas por meio de campanha realizada pelo Instituto Indígena do Tocantins (Indtins), iniciada em dezembro de 2021, com apoio da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), do Centro de Direitos Humanos de Palmas e do Movimento de Direitos Humanos do Tocantins.
As famílias beneficiadas foram aquelas em tratamento de saúde e que tiveram suas plantações inundadas pelo rio.
Participaram da ação, a presidente do Indtins, Narubia Werreria e o coordenador da Coordenação Técnica Local (CTL) da FUNAI em Tocantínia, coronel Lemos.
Inicialmente as doações foram entregues em um hotel onde indígenas em tratamento de saúde estavam hospedados e em seguida foram escoadas para as aldeias por meio de líderes indígenas presentes na CTL da FUNAI na cidade.
A presidente do Indtins conta que a vulnerabilidade do povo vai além da pobreza alimentar: “Nós viemos entregar essas cestas e a necessidade é muito grande, é preciso que os órgãos trabalhem em conjunto com o povo Xerente. Muitas famílias estão precisando de apoio não só em relação à segurança alimentar, mas a saúde que está muito preocupante".
A ativista enfatiza que o trabalho do instituto no apoio aos Xerentes deve continuar. “Nós precisamos agora continuar a articular ainda mais, nós verificamos que têm 1.500 cestas básicas paradas na FUNAI, por falta de recurso, nós precisamos de parcerias para levar essas cestas básicas para aldeias”, complementou.
Saúde precarizada nas aldeias
A artesã Elite Xerente narra que mesmo durante a alta de casos de Covid-19 houve falta de médicos no território Xerente e que ao recorrer à saúde municipal de Tocantínia muitos indígenas sofreram discriminação racial.
O descaso com a saúde permanece em 2022.. De acordo com o conselheiro de Saúde Indígena, Tony Xerente, o atendimento médico é feito de modo irregular. “Tem médicos e enfermeiros, mas eles não vêm fazendo o atendimento que tinham que fazer. Os funcionários são pagos mensalmente para pernoitar na área, o DSEI [Distrito de Saúde Indígena] faz os pagamentos só que a equipe não pernoita na área”, expõe o conselheiro e acrescenta que a falta de atendimento vem causando mortes na aldeia. No dia 2 de fevereiro, seu primo Silvio Dakukreikw veio ao óbito e a falta de profissionais impediu até mesmo que a família soubesse a causa da morte.
Tony Xerente afirma ainda que há lentidão na vacinação contra Covid-19, não existindo uma campanha de conscientização nem do Governo Federal, estadual ou municipal nas aldeias. Conforme o líder Akwé muitos indígenas ainda não tomaram a segunda dose e nem mesmo ele conseguiu acesso à terceira dose. Tony revela, também, que a vacinação infantil não foi iniciada nas aldeias.
A intervenção partidária na saúde indígena é outra denúncia dos conselheiros de saúde. “O que tem prejudicado bastante é a interferência dos políticos nas indicações diretas de servidores sem nenhum compromisso na melhoria da saúde indígena do povo Xerente. A voz que o DSEI tem que ouvir é a voz dos conselheiros locais de Saúde Indígena Xerente porque nós fomos eleitos para apresentar as demandas do povo, somos nós que convivemos com a realidade”, destacou Tony Xerente.
Em 2021, o povo Xerente realizou um protesto em Tocantínia denunciando a interferência política que substituiu funcionários públicos da saúde nas aldeias.
Desmatamento ilegal nas terras Xerentes
Denunciada pelo coronel Lemos e pelo cCacique João Brito, a extração de madeira ilegal vem ocorrendo na Terra Indígena Xerente desde o início da pandemia. Os madeireiros ilegais se aproveitam da falta de fiscalização e da vulnerabilidade econômica de indígenas para aliciá-los e abrir caminhos ilegais entre as aldeias, derrubando as árvores nativas da região.
Um caminhão e dezenas de toras de madeira retiradas da Terra Xerente estão retidos na CTL de Tocantínia, após apreensão realizada pela Polícia Federal. Além de madeireiros, o Povo Xerente também tem que lidar com a presença de traficantes de drogas que, segundo o coronel Lemos, foi denunciada pelos próprios caciques Akwé. (Com informações da Ascom Indtins)