Fred Alves e Fabricio Rocha
Um dos grandes personagens da história moderna do Tocantins, o economista Edmar Gomes de Melo faleceu no dia 25 de maio, depois de sofrer um AVC e ficar dias internado num hospital da capital tocantinense. Partiu justamente na véspera em que Tupirama, sua terra natal, completou 27 anos de emancipação política. Fato que chama atenção, pois Edmar foi um dos líderes do movimento pela emancipação do município.
Seu corpo foi sepultado no cemitério de Tupirama no final da tarde desta quarta-feira, 26.
Sua história se confunde com a do Tocantins e a de Tupirama. Edmar Gomes de Melo nasceu em 30 de janeiro de 1944. Filho do casal José Ximenes de Melo e Luiza Gomes de Melo, estudou no Colégio Cristo Rei, trabalhou em Pedro Afonso na Delegacia da Fazenda até mudar-se para Brasília em 1965, onde concluiu os estudos.
Após fixar residência na capital federal finalizou os estudos diplomando-se em economia pela Universidade do Distrito Federal. Trabalhou na empresa Telebrás. Teve sete filhos e foi casado com Marilene Soares Pinheiro.
Mas foi na militância estudantil e política que moldou sua biografia. Naquela época a continuação dos estudos dos alunos do norte goiano, e que na sua maioria eram pobres e não tinham condições materiais de estudar na capital Goiânia, tiveram o apoio assistencialista da Casa do Estudante do Norte Goiano (Cenog), criada primeiro em Pedro Afonso pelo professor Vicente de Paula Leitão.
“Fundamos uma casa de apoio aos estudantes pobres, a Cenog em Goiânia. Devido à proximidade de alunos de várias partes do então setentrião goiano, veio se tornar também um centro de debates da região nortense onde a divisão do estado era pauta prioritária. Faziam-se proposições, requerimentos, denúncias, entre outras ações”, rememorou Edmar em entrevista concedida à Coluna Memória Viva, do Jornal Centro-Norte Notícias, em 2014.
O jovem Edmar se engajou no movimento separatista no início da década de 1960 no Colégio Cristo Rei, sendo presidente da Cenog, enquanto estudante, e se manteve até a vitória, com a criação do Estado do Tocantins em 1988.
“Recordo que, a maioria das lideranças políticas de Goiás, inclusive da própria região Norte, se omitia quanto à causa separatista. Em sua quase totalidade, os prefeitos e deputados quase não se pronunciavam. O movimento era levado pela intelectualidade”, reveltou Edmar.
A ditadura extinguiu a Cenog em 1964, que deu lugar a Comissão de Estudos do Norte (Conorte) em 1981. A diretoria do grupo conseguiu no norte goiano 78 mil assinaturas para apresentar na constituinte de 1988 como desejo da população em ver o Tocantins criado.
“Nosso grupo de entusiastas pela causa separatista entregou ao relator Ulisses Guimarães as assinaturas em Brasília, mas destaco no período a atitude positiva do governador de Goiás, o Dr. Henrique Santillo, que jamais ofereceu qualquer obstáculo, inclusive, dispensando a consulta popular em todo o Estado de Goiás, o plebiscito. Foi uma grande vitória da Conorte”, recordou.
Ele comenta que o clamor dos intelectuais só começou a ganhar apoio político em abril de 1982, quando a Conorte, que tinha ramificações em Brasília, promoveu seu primeiro congresso no Distrito Federal. Mais de 500 pessoas participaram. “Foi um momento histórico, que deu força ao movimento e iniciou, efetivamente, a criação do Estado’, disse.
Os idealistas da Cenog/Conorte participaram ativamente e foram decisivos no processo de redivisão do Estado de Goiás, embora em muitos livros escritos recentemente no Tocantins esta importância seja ignorada, lembrou Edmar. “Muitos escritores fazem questão de esquecer as gerações de 1940, 1950 e 1960 de Pedro Afonso e Porto Nacional e, especialmente, da Cenog e Conorte. Nós trabalhamos diuturnamente, sem ganhar um só centavo, gastamos dos nossos bolsos, das nossas empresas, tiramos dos nossos parcos salários, o dinheiro para sustentar a campanha pela criação do Estado do Tocantins. Muitas vezes prejudicamos as nossas famílias, hoje o Tocantins é realidade, lutamos muito por isso”, lembrou Edmar.
Ainda em 1991, em sua Fazenda Santa Clara, em Tupirama, Edmar coordenou junto a um grupo de pessoas a emancipação do município. Nos último anos, o economista desenvolvia projetos de preservação e valorização da memória dos participantes da Cenog/Conorte.