Mirella Fonzar é jornalista
Por conta das mudanças promovidas pela era digital, a criação e o consumo de notícias sofreu uma rápida transformação e hoje segue uma nova tendência. Se antes eram poucas as possibilidades de informação, hoje o acesso a notícias se tornou praticamente instantâneo por meio dos canais digitais. No entanto, se por um lado, a comunicação online democratizou os meios de produção e acelerou a disseminação de notícias, por outro, tornou-se um terreno fértil para as Fake News.
Dos posts rasos do Twitter à tecnologia inteligente do “Deepfake”, a era das notícias falsas é constituída por conteúdos manipulados das mais diversas mídias que atraem cliques e viralizam mais rapidamente do que as notícias produzidas por veículos e profissionais que seguem procedimentos estabelecidos para checagem de fatos. À medida que essas campanhas de desinformação online se multiplicam, mais se verifica que as mentiras trazem riscos para segmentos importantes da sociedade, como é o caso do impacto das Fake News na política.
Qual o impacto das Fake News na política e como elas afetam as democracias
O aumento desenfreado da divulgação de Fake News na política suscita preocupações globais, quando eleitores podem basear a escolha do seu voto em informações distorcidas, com forte viés ideológico. A influência nos processos eleitorais democráticos e na forma de governar são exemplos amplamente divulgados de como as notícias falsas podem causar grande impacto no funcionamento dos governos em todo o mundo.
Com o uso de dispositivos móveis e o fácil acesso à Web, redes sociais como o Facebook, Instagram e Twitter, e plataformas de comunicação instantânea como WhatsApp, se transformaram em locais de disseminação de notícias, muitas delas criadas para moldar nossa visão de mundo, pois tomamos decisões importantes baseadas em informações. Portanto, se as notícias que vemos na Web forem inventadas, falsas, exageradas ou distorcidas, nossas decisões também seguirão a linha do equívoco.
Um boato que o Papa Francisco apoiava Donald Trump para a presidência rodou a internet pouco antes das eleições norte-americanas, que elegeram o republicano em 2016. Há quem diga que aquela notícia falsa foi a “benção” que o político precisava para quem ainda não havia decidido o voto.
Não apenas neste caso, mas as temidas Fake News se tornaram uma força poderosa politicamente, com o direcionamento implacável de visões sensacionalistas e hiperpartidárias que atendem aos medos e preconceitos dos indivíduos, a fim de influenciar seus planos de votação e seu comportamento ao redor do globo. Esse fenômeno de grande impacto para a democracia não é exclusivo dos Estados Unidos.
Nas eleições de 2018 no Brasil, quando Jair Bolsonaro foi eleito pelo voto popular para comandar o País, os brasileiros viveram isso na prática, quando tiveram acesso a uma enxurrada de informações duvidosas que envolviam o meio político sendo compartilhadas nas mídias sociais. A Justiça Eleitoral não encontrou uma forma de contradizê-las e, até hoje, existe uma investigação no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Congresso (CPI) sobre as Fake News, investigação esta que tem sido motivo de desavenças e disputas entre o Poder Executivo e Judiciário, nos últimos dias.
O conceito de usar mentira como estratégia foi concebido após anos de observação do governo de Vladimir Putin, na Rússia. No Brasil, o uso intensivo das redes sociais, com milhões de brasileiros se comunicando por grupos de WhatsApp, as fake news circulam imunes a qualquer checagem. Esse quadro é completado pela facilidade de contratação de pessoas, com baixos salários, para atuar como robôs virtuais na propagação de relatos falsos e tendenciosos.
Se analisarmos as táticas políticas através da história, a divulgação de Fake News na política é apenas uma velha prática renovada que agora conta com os avanços da tecnologia. Obviamente o nível que essa falsidade alcança hoje em dia é algo extraordinário. As vantagens do sucesso de políticos populistas mostram o quanto esse a estratégia pode ser efetiva.
Como combater as notícias falsas na política
A única forma de lidar com as notícias falsas na política é construir instituições públicas que estabeleçam custos e punições para quem violar as normas sobre conteúdos racionais, mas isso ainda é uma expectativa a longo prazo. A redução de incentivos financeiros para a publicação de Fake News e a educação digital do público em geral também seria um passo responsável para combater o flagelo desses conteúdos.
No momento, o melhor cenário possível é o surgimento de ferramentas inteligentes de checagem de notícias falsas – prática conhecida como “fact checking” – entre as quais estão agências especializadas, sites e iniciativas jornalísticas coletivas, que ajudam a verificar se declarações, especulações e rumores que ganham projeção na Internet são verdadeiros, se as falas de figuras públicas em entrevistas e debates não foram adulteradas, e todos os demais conteúdos suspeitos que circula nas redes sociais.