Cidades

EFEITO CORONAVÍRUS

A Pandemia da Histeria

19/03/2020 12h06

Bernardo José Rocha Pinto 

Delegado da Polícia Civil em Pedro Afonso

Na data de ontem (18/03/2020) tivemos confirmado, em Palmas-TO, o primeiro caso de Coronavírus no Tocantins. E o que isso impacta em nossa vida? Muito pouco. Ao menos em se tratando de uma pessoa esclarecida, que tem o mínimo de conhecimento e senso crítico, e consegue absorver as informações sem ser tomado pelo desespero.

Infelizmente, ao nos depararmos com a primeira pandemia na era das redes sociais, o que se vê é um pânico desnecessário. As notícias que acompanhamos, maçantemente, por intermináveis horas, nos mais variados meios de comunicação, nos mostram reações desarrazoadas e desproporcionais. Não há mais máscaras nas farmácias, supermercados já apresentam prateleiras vazias, pessoas disputam à força os últimos produtos “essenciais” para estocarem em casa como se estivéssemos em guerra. Ora, se temos mercados desabastecidos e hospitais lotados, pois as pessoas vão ao médico sem necessidade, temos um problema causado pelo pânico e não pelo vírus.

O que se observa é que o vírus está sendo tratado como se fosse uma nova Peste Negra completamente incontrolável que em breve poupará apenas os que se isolaram em seus bunkers privados ou no cume do Everest ou do Aconcágua.

Sem querer entrar em detalhes médicos ou científicos, mas é possível afirmar de maneira incontestável que a maioria das mortes ocasionadas pelo vírus é de idosos que muito provavelmente morreriam se fossem infectados por qualquer outra enfermidade gripal grave. Como já amplamente propagado, as medidas de prevenção do COVID-19 são as mesmas utilizadas para evitar o vírus que causa a gripe. A prevenção protege o indivíduo e o próximo, evitando que a população mais vulnerável adoeça.

Na Itália a situação não é grave? Sem dúvida que sim. Muito da gravidade está relacionada ao envelhecimento da população daquele país. Na Itália, milhares de idosos falecem, todos os anos, de calor, no verão e de frio, no inverno, na grande maioria das vezes relacionadas com doenças pulmonares.

De acordo com notícia divulgada hoje, a China não registrou nenhum novo caso da doença nas últimas 24 horas. Os números revelam que a epidemia parece estar sob controle na cidade de Wuhan, capital da província de Hubei e onde o COVID-19 foi inicialmente identificado, em dezembro de 2019.

O Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças apresentou um estudo muito interessante, informando a chance de morte entre as faixas etárias, a saber: pessoas entre 10 e 39 anos tem 0,2% de chance de morrer. Nas pessoas entre 60 e 69 anos essa chance aumenta para 3,6% e nas pessoas com mais de 80 anos a chance aumenta para 14,8%. Vejam que o estudo não trata da mortalidade por faixa etária pelo COVID-19, mas sim por qualquer doença.

Referido estudo não traz nenhuma novidade. É cediço que os idosos apresentam sistema imunológico mais vulnerável que traz por consequências maiores complicações em qualquer tipo de enfermidade.

Por óbvio que esse texto não tem a intenção de ignorar por completo o surgimento de uma mutação viral e a devida atenção que deve ser dispensada. Contudo, como já escreveu o filósofo, jornalista e professor Olavo de Carvalho, “a razão é, eminentemente, senso das proporções”. Estamos tratando o assunto de forma proporcional? A título de exemplo, vejamos a lista das cinco doenças mais letais do mundo, segundo o Centro de Controle de Doenças da OMS: tuberculose, 3014 mortes por dia; hepatite B, 2430; pneumonia, 2216; AIDS, 2110; Malária, 2002. Outras doenças como febre tifoide, meningite, febre amarela e raiva também são mais letais do que o novo vírus.

O psiquiatra Saulo Piasca, professor na Universidade Nove de Julho, afirma que “o excesso de informação, as informações incompletas e a preferência da imprensa por mensagens de maior impacto também contribuem para a geração de medo na sociedade.”

“O problema da globalização é que nesse momento temos as notícias em tempo real, sendo atualizadas a cada momento. Isto contribui para disseminação de uma pandemia de pânico”, afirma o psiquiatra Marcel Vella Nunes, do Hospital Santa Mônica, em São Paulo.
Assim, nesse momento, o mais importante é manter a calma e acompanhar os desdobramentos e novas descobertas. Devemos filtrar as informações, e priorizar os meios sérios e confiáveis com o intuito de evitar propagar notícias falsas. Não é hora para preocupação exagerada.



 

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