Henrique Lopes
20 de janeiro de 2019, Dia de São Sebastião! Às sete horas da noite, o altar, posto cuidadosamente com flores e velas, evidencia a imagem de São Sebastião.
Aos poucos, familiares, amigos e devotos do santo, um soldado romano que foi martirizado por professar e não renegar a fé em Jesus, começam a chegar e a ocupar as cadeias sob as tendas no fundo do quintal na Rua 15 de Novembro, uma das mais tradicionais vias de Pedro Afonso.
Às 19h30, o terço ofertado a São Sebastião é iniciado, acompanhando de louvores e benditos que lembram a história do mártir durante sua passagem terrestre.
Durante os cânticos, que se alternam com a passagem dos mistérios e as preces, o olhar atento dos fiéis ao altar expressa a adoração, o respeito e a reverência às diversas divindades, além da fé e do amor, ecoados pelos louvores que preenchem o ambiente.
A novena de São Sebastião, tradição na vida da família Martins, tem sido passada por gerações há mais de seis décadas. Iniciada pela matriarca da família, Elzébia Pinheiro Martins, após uma prece atendida por São Sebastião, é realizada todos os anos, mesmo após a sua morte em 2000, pelos filhos, netos, bisnetos, noras e genros, além de amigos da família.
“Minha mãe tinha feito uma promessa que se tivesse uma filha mulher se chamaria Sebastiana e então eu nasci, mas quando estavam em uma alegria tremenda a filha estava ‘desaparecendo’ aí fez-se uma promessa para São Sebastião que foi atendida e desde então mamãe reunia a família e os amigos para celebrar essa graça”, contou Sebastiana Martins Pinheiro, ao revelar que antes, não gostava muito do seu nome, até perceber a poderosa simbologia por trás de Sebastiana.
A professora aposentada, que não quis revelar a idade, relatou ainda que para a família é um orgulho ter São Sebastião como patrono. “Todos os anos nos reunimos, pois é um momento de fortalecer a nossa fé, agradecer, e prestigiar São Sebastião. Por um tempo essa novena foi realizada em Belo Horizonte, após a morte da mamãe, mas voltamos a Pedro Afonso, pois aqui é o lugar onde está a família”, frisou a primeira mulher de 17 irmãos.
Devota de São Sebastião desde a infância, quando acompanhava a festa no município de Centenário, Carmem Tavares Silva, de 52 anos, conta que a reza é um momento de muita emoção. “É um encontro de amor, de paz, de devoção e de agradecimento a São Sebastião por todas as graças que recebemos”, destacou a enfermeira que acompanha a reza há quatro anos em Pedro Afonso.
Já a aposentada Januária Parente, 79 anos, avalia a novena como um momento de confraternização e de resgate de tradição. “Todos se reúnem para celebrar o amor de Cristo e São Sebastião. Em tempos em que o mundo precisa de amor e fé, manter essas tradições e a vivência do cristianismo é algo fundamental para as famílias”, ressaltou.
Raimunda Pereira Lima, 76 anos, popularmente conhecida como Mundeza, uma das rezadeiras mais tradicionais de Pedro Afonso, acredita que as tradições de Pedro Afonso se mantêm vivas graças a fé da comunidade. “Em muitas cidades esses ritos já se perderam, mas em Pedro Afonso, graças ao meu bom Deus, muitas famílias celebram as suas devoções, em várias datas do ano, renovando a nossa fé”, testemunhou a aposentada.