Henrique Lopes
Há dois anos, o dia 1º de novembro ficaria para sempre marcado na memória histórica da região centro-norte do estado do Tocantins. A tragédia da Casa de Pedra, ocorrida em 2016, vitimou 17 pessoas, dez delas de forma fatal, durante a tradicional reza em homenagem ao Dia de Todos os Santos.
A tradição secular, realizada em uma gruta, localizada na zona rural de Santa Maria do Tocantins, era usada como forma de agradecimento e pagamento de promessas pelas graças alcançadas, além de ser um momento de confraternização de famílias inteiras e amigos das cidades de Santa Maria do Tocantins, Pedro Afonso, Itacajá, Recursolândia, Bom Jesus do Tocantins, entre outros municípios.
O dia de alegria e agradecimento foi tomado pelo horror e pânico de quem viu a festa se transformar em um pesadelo, após parte da gruta onde se realizava as orações ir ao chão atingindo dezenas de pessoas.
Dois anos depois da tragédia o jovem Renan Barros Oliveira, 24 anos, morador de Pedro Afonso, contou ao Portal CNN que sobreviver a tragédia foi a maior provação na sua vida. “Fica uma angústia e um vazio que jamais serão preenchidos. Saudades, lembranças, recordações, momentos de alegria, união descontração e fé que acabaram em um final trágico. Gratidão maior a Deus pelo livramento que me deu no desabamento”, testemunhou o jovem
Renan, que fraturou a perna e pé direitos durante o acidente, afirmou ainda que o sentimento, mesmo com o tempo, não muda. “São sentimentos que não podem ser expressos através de palavras, meu sentimento e de solidariedade às famílias que perderam um ente querido nesta data”, completou.
Já o agente comunitário de saúde, Reinaldo Sousa, que possui uma propriedade próxima a Casa de Pedra, revelou que o dia 1º de novembro, antes de felicidade e confraternização, deu lugar as lembranças de uma dor que ficará marcada eternamente no coração do povo santamariense. “A gente não esquece, pois eram parentes, amigos que foram mortos durante o acidente. Os anos passam, a gente se acostuma, mas a dor fica”, lamentou.
Ronaldo, que acompanhava a festividade há quase duas décadas e ajudou a socorrer as vítimas da tragédia, lembrou que a tradição morreu no município. “As pessoas que antes celebravam essa data agora choram neste dia, seja pelas lembranças, seja pela saudade. Às vezes curiosas visitam o local, mas não há clima para festejar o Dia de Todos os Santos”, destacOU o homem de 40 anos.
O acidente na “Casa de Pedra” teve 10 vítimas fatais. Entre elas mãe e filha de Pedro Afonso, Deuzenira Ferreira da Luz, de 45 anos, e Tais Soares Ferreira, de 17 anos. Do município de Santa Maria do Tocantins estão entre as vítimas Valdemir Lourenço de Oliveira, 57 anos, além de Dorival Pinto Soares, 58 anos, e Domingas Pereira Guimarães de Sousa, de 56 anos.
Já de Itacajá faleceram durante o soterramento as rezadeiras Nercilia Dias Coutinho, de 64 anos, e Joanice de Sousa Miranda, de 52 anos. Além da mãe Elma Divina Menezes Santiago, 49 anos, que morreu junto com os filhos, Ozeias Menezes Santiago, de 10 anos, e Sulamita Menezes Santiago, que celebrava o aniversário de 10 anos durante a o momento religioso.
Causas naturais
Menos de um ano após a tragédia a 11ª Delegacia Regional de Polícia Civil (DRPC) de Pedro Afonso concluiu o inquérito sobre o acidente. Na época, o então titular da 11ª DRPC, Wlademir Costa Mota Oliveira, responsável pelas investigações, apontou que a tragédia foi causada por um desgaste natural da pedra.
O texto final do inquérito revelou que as declarações colhidas demonstram que a causa do acidente foi o desgaste natural da rocha e que no dia que antecedeu os fatos foram percebidos que pequenos fragmentos teriam se desprendido do teto da gruta, anunciando, assim, a tragédia.
As investigações ainda mostraram que não houve qualquer ação ou omissão humana que colocasse as vítimas em risco, ainda que algumas pessoas cogitasse a hipótese de uso de foguetes, não se pode afirmar que foi a causa determinante do acidente.