Marcos André Silva Oliveira
Professor e Advogado
Decidi, não por medo ou outro sentimento análogo a covardia, mas antes por uma fagulha de bom senso que parece residir em mim, me afastar das discussões inerentes a corrida presidencial desse ano. Não mudei meu pensamento sobre os candidatos, nenhum deles, continuo entendendo do mesmo modo de outrora, o que antes era o mais correto continua a sê-lo, o que era reacionário, da mesma forma.
Resolvi encarar esse período, e diga-se de passagem, tem sido difícil, eu diria quase impossível, ler um amontoado de coisas e não me manifestar, sempre na minha rede social, há tempos incógnitos passei a interpretar esse meio virtual de amizades como uma inequívoca extensão de nossa vida diária, e portanto, não é por estar vizinho de alguém que me sinto no direito de opinar sobre a cor de sua casa, sobre o modelo de seu muro, sobre o mato que cresce em seu quintal, uma parte estará lá, apenas na condição de meu vizinho a quem acima de tudo, respeito o espaço de convivência.
O que de fato me impulsionou a me afastar das discussões inerentes a esse processo foi a flagrante relativização do ódio, não apenas de um lado, de uma sigla, de uma cor, de uma pessoa, mas, a reinterpretação conveniente e nada honesta que começamos, TODOS, a fazer da raiva, da ofensa, do achincalhamento de todas as formas.
Passamos, e estou propositalmente me utilizando da primeira pessoa do plural, porque me vi banhado pela lama fétida e pútrida do apontamento do erro alheio, como forma de legitimar uma qualidade que entendia vislumbrar no meu candidato, a pesar o ódio em balanças distintas. De um lado a morte de um parece ser legitima, a de outro um atentado ao Estado Democrático de Direito, e nesse momento ecoam gritos de juristas, médicos, legistas e tantas outras profissões, quase todos formados na Universidade Facebook ou Google da realidade nossa de cada dia.
Me peguei assustado em atribuir a desinteligência as pessoas pelo simples fato de não comungarem de minhas verdades absolutas, e assim, percebi que se tornava comum “os idiotas não conseguem ver”, “só sendo muito burro para não perceber”, “está explicado a decadência dessa pátria de merda” e pasmem, essas são as mais leves, porque quando se está em meio à guerra parece que tudo se legitima em prol de salvar, nesse caso, não a vida, mas as verdades irretocáveis nossa de cada dia.
Me afastei quando percebi que uma facada perfurou não apenas um ser humano, mas a humanidade já tão pequena que há em cada um de nós. Quando o ódio começou a turbar todas a visões, sem nenhuma exceção, os olhos mergulharam em uma cegueira que nem Saramago conseguiria explicar.
E foi assim que vi, e infelizmente tenho visto, que o corte não foi apenas físico, mas moral, porque ele procedeu a apagamentos e nascimentos de verdades, de mentiras, de reinterpretações e dessa forma, estamos todos banhando no sangue alheio, como uma maneira sádica de nos fazermos simulações de homens e mulheres que querem um país melhor, não se sabe exatamente para quem. Mas, que relativizam o ódio, e os acontecimentos, sem nos darmos conta, de que o tão citado Estado Democrático de Direito, não permite atirar em ônibus, esfaquear, metralhar, discriminar e tantos outros eteceteras. Portanto, convenientemente, me retirei do palco das certezas para o refúgio de minha cômoda covardia e ignorância.