Da Redação
Um ano após a audiência pública que autorizou a concessão do sistema de saneamento de Bom Jesus do Tocantins, moradores voltaram a lotar o plenário da Câmara Municipal. Desta vez, cerca de 80 pessoas acompanharam a sessão, realizada na noite da terça-feira, 30 de outubro, para reclamar das inúmeras irregularidades da empresa Hidro Forte Administração e Operação Ltda, vencedora da licitação que terceirizou os serviços de abastecimento por 30 anos.
Revoltados, os moradores questionaram a atitude da empresa Hidro Forte, que assumiu o sistema de abastecimento há cerca de três meses. Aspectos como cobranças indevidas, má qualidade da água, falta de cadastramento dos contribuintes, além de irregularidade no cumprimento dos acordos feitos durante a audiência pública que autorizou a concessão, realizada em 09 de outubro de 2017, foram apresentados pelos bonjesuínos aos vereadores.
O agente de saúde Maurivan Almeida Aguiar afirmou que a comunidade tem recebido ameaças de corte de água, mesmo com a qualidade da água tendo ficado pior após o tratamento feito pela empresa. “Chega funcionário ameaçando se não pagar a taxa mínima que é de R$ 38,50 vai cortar a água, que nem é tratada. Nós queremos água tratada e não uma lama como essa”, ressaltou o servidor, ao expor uma garrafa com água marrom no plenário.
Já o pedreiro João Batista revelou que a empresa vem cobrando água até em casas onde o registro não foi instalado. “Lá em está vindo de R$ 77,50, sendo que a empresa nem colocou relógio ainda. Como eu vou saber o meu consumo de água se não tem registro, isso quando tem água. Nós queremos uma solução, nós defendemos a água, mas o tratamento não está sendo feito”, argumentou.
Outros moradores também explanaram sobre a revolta com o sistema de abastecimento. “Nós começamos a pagar água, para tomar lama?”, questionou um deles. “Não dá para se pagar uma coisa que inadequada. A água estava melhor quando não tinha empresa”, ressaltou outro morador. “Nós queremos uma atitude dos vereadores. Estamos aqui cobrando uma resposta. Por que o dono da empresa não está aqui hoje? Ele coloca crianças menores de idade para entregar talão, pois sabe que a comunidade não vai reclamar para às crianças. Além disso, a empresa não tem um cadastro, chega e pergunta quem mora na casa e a conta chega com nome de qualquer pessoa”, destacou uma moradora.
Em resposta as cobranças da comunidade, o presidente da Câmara de Bom Jesus do Tocantins, Josailton Andrade (PT), leu ofício onde a empresa justificava os investimentos feitos no município, bem como as explicações para a cobrança da taxa mínima de R$ 38,50. “A empresa investiu na melhoria do sistema, reforma do escritório para atendimentos dos consumidores, implantação dos hidrômetros, cadastro geral dos usuários, além da recuperação da estação de tratamento, que estava deteriorada”, explanou o parlamentar.
Já sobre o valor da tarifa de água, que foi comparada com a taxa cobrada em Pedro Afonso, de R$ 22,50, Josailton explicou tratar-se de uma empresa privada e que a mesma segue a tabela de valores aplicada por outras empresas pelo estado. “O valor está dentro do proposto, como apresentado pelo menor preço de licitação de prestação dos serviços. Lembrando que as outras concessionárias são superiores”, destacou.
Parlamentares da oposição, os vereadores Felipe Neves (PR), Marta Oliveira (PDT), Pedro Machado (PSB) e Edimilson Rodrigues (PDT) afirmaram que solicitaram cópias do contrato firmado entre a Prefeitura de Bom Jesus e a empresa Hidro Forte, mas não foram respondidos. “Nós aceitamos essa concessão, pois o município era incapaz de gerir o sistema de água e foi, no dia da audiência, acordado que a taxa mínima seria entre R$ 18,00 e R$ 21,00. Nunca imaginei que iriamos beber lama e pagar esse valor absurdo por isso”, afirmou Felipe Neves.
Já Marta Oliveira disse que caso for preciso levará o caso ao Ministério Público Estadua. “Eu estou aqui para buscar uma solução e estou junto com o povo. Se a gestão não responder a contento, nós vamos ao Ministério Público Estadual, pois isso é inadmissível”.
Edimilson, que um ano atrás questionou os moldes da concessão, voltou a ressaltar os erros da gestão. “Tem muita coisa errada aí. O povo está pagando por um serviço sem ter. Você pede informações e não tem também. Na hora de votar o projeto chamaram a Câmara, depois fazem a licitação sem passar por aqui? Isso não está certo. ”, ressaltou o parlamentar.
Líder do governo no Legislativo, a vereadora Selene (PV) informou que esteve dialogando com o prefeito Paulo Hernandes (PRB) e que a gestão está buscando uma alternativa para as falhas ocorridas. “O prefeito já mandou corrigir. Essa história de R$ 18 a R$ 21,00 seria para as pessoas de baixa renda. Isso seria um trabalho que a empresa também vai fazer. Eu estou falando daquilo que eu sei e tenho consciência. Essa é uma empresa séria, até Tupirama já quer fazer concessão com essa empresa”, salientou.
Conforme o presidente da Casa de Leis, a presença do representante da empresa Hidro Forte Administração e Operação Ltda já foi solicitada para esclarecer os questionamentos da comunidade, durante a próxima sessão, que acontece no dia 6 de novembro. Membros do poder Executivo Municipal também foram convocados para participar da reunião.