Política

OPINIÃO

Moisés Costa: In memoriam

06/09/2018 09h43 - Atualizado em 06/09/2018 09h55

Danilo Santiago Barbosa
Agente Penitenciário do quadro efetivo do estado do Tocantins.
Acadêmico de Direito na Faculdade de Guaraí – FAG.
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“Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim, tão diferente

Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber que o pra sempre sempre acaba”


Há exatamente uma semana atrás, a política tocantinense perdeu um de seus grandes expoentes, o prefeito de Miracema Moisés Costa. Antes fosse apenas um grande político!.. Tratava-se de um grande homem, empresário bem sucedido, amigo do povo e referência familiar.

A vida me concedeu a honra em conhecê-lo pessoalmente, em um encontro familiar em agosto de 2016, na Fazenda Nova Iorque, município de Centenário–TO, ocasião esta em que se comemorou o aniversário de 90 anos de sua avó, a dona Felisbela Costa. Eis defronte de um sujeito de aparência simples, olhar humilde, o qual por alguns me fora apresentado como pré-candidato a prefeito da “primeira capital” do Tocantins e que, confesso: fui surpreendido pelos talentos ali escondidos.

Nascido na Fazenda Cajueiro, então município de Lizarda, Moisés é oriundo de Centenário–TO, onde reside sua família, e de onde houve forte contribuição ao desenvolvimento deste município, por seu avô, Gustavo Costa, este qual batiza o nome do colégio municipal de Centenário.

A partir de então, o menino nascente do sertão tocantinense há poucos quilômetros da serra geral maranhense, distante de tudo... De cidade, atualmente, com o 4º pior IDH do Tocantins, forage da sina medíocre, a fim de “vingar” na vida em uma grande cidade, tal qual uma lírio-ímpala (planta típica do deserto do Saara)... Tudo conspirava contra ele. Tinha tudo pra ser somente mais um, quando pior, pra dar errado! Fez jus ao nome, tal qual o xará do “êxodo” bíblico... O Moisés do cesto, alçado às águas que fora destinado a ser referência ao seu povo.

Em compasso, fez-se beligerante ante a realidade. Formou-se contador e fez surgir seu escritório contábil. Eis que urge uma nova alcunha, o Moisés da Sercon. Mas remanesce o mesmo homem.

Em articulação com o povo, viabiliza-se candidato em 2016. Trava batalhas homéricas, em um município acostumado a fortes expressões políticas internas e ao estado. Disputa contra a então gestão e vence. Como se não bastasse, tratou de consubstanciar o sentimento popular. O cidadão miracemense bateu no peito pra dizer: “Meu voto é do baixim”. O “baixim” foi gigante e não houve medida para tal estatura. Elegeu-se o prefeito mais bem votado, proporcionalmente, do Brasil, com 84,62% dos votos válidos.

Em ato contínuo, Moisés viu-se perante uma prefeitura aviltada. Herdou 19 milhões em dívidas, frota de veículos e maquinários sucateados, contas bloqueadas... Nada que não fizesse um cidadão a desistir de seu município.

Mas Moisés não desistiu! Negociou dívidas com fornecedores, reformou estradas, asfaltou setores, como o Santa Filomena, construiu pontes, como a ponte dos Galvões e devolveu dignidade à insigne Miracema do Tocantins.

Decerto, Moisés Costa adentra ao rol de notáveis e personalidades que fazem parte da história de Miracema, tal qual memoráveis, como: Nereu Vasconcelos, Pedro Noleto, Eurípedes Coelho, Sebastião Borba, Junior Evangelista e porquê não lembrar de Dom Alano Du Noday e Salomão Wenceslau?

Ademais, o atentado que vitimara Moisés, não foi um crime tão somente consumado! Mas autorizo-me a afirmar que tal intento é um crime continuado. A bala que transfixou seu corpo, não se quedou em uma caminhonete; é um projétil perfuro-contundente que atingiu a democracia tocantinense e, sobretudo, o combalido povo miracemense! Feriu, expansivamente, um povo, vitima de uma sequela pendente de tempo para cicatrização de sua dor.

Moisés Costa era um político de uma nova safra que produzia expressivos resultados, ante a desmoralização da classe política. Sua eleição acachapante, apenas denotava seu futuro promissor! Moisés da Sercon, tal qual escrito na canção epígrafe do artigo, de Renato Russo, fez o povo acreditar “que tudo era pra sempre...”, mas “sem saber que o pra sempre sempre acaba.”

Ficam seu legado, as lições, seu exemplo de vida! Como dizia Fernando Pessoa, “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena!”. Quem pensara ter matado Moisés, fez apenas pra si!.. Pois bem como Getúlio Vargas, Moisés serenamente deu o primeiro passo à eternidade, e “saiu da vida para entrar na história!”, reside no coração de um povo que soube respeitar e admirar um líder, ainda que sem contar com tamanha peripécia.

Por fim, concluo com a assertiva de William Shakepeare: “Os covardes, morrem varias vezes antes de sua morte, mas o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez!”

Guaraí – TO, 06 de Setembro de 2018.



 

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