Reportagem: Wellitânia Abreu
Edição: Fred Alves
Um dos fatos mais importantes da história de Pedro Afonso completou meio século neste domingo. No dia 13 de maio de 1968, mesma data em que se comemorava a Abolição da Escravatura, a então pequena comunidade de foi “libertada” do uso racionado de água. Até então o sistema de fornecimento era através de carregadores com seus jegues que traziam nas costas latas cheias d’água, que eram entregues nas residências dos proprietários que faziam o pagamento mensal pelo serviço. O pagamento pelas cargas era de cerca de 20 cruzeiros e cada família tinha sua cota diária.
No sábado essa cota era dobrada, pois a maioria dos carregadores não trabalhava no domingo. A água do Rio Sono usada para cozinhar e tomar banho, era mais cara que a do Rio Tocantins, que servia para lavar louças e outros afazeres. Entre os mais conhecidos carregadores, estava Pedro Gago, o popular Zuza, entre outros.
O evento histórico que marcou a cidade de Pedro Afonso foi chamado de “Libertação dos Jegues”. O prefeito do município na época era o saudoso Ademar Amorim, conhecido por seu um visionário. Ele conseguiu mobilizar toda a sociedade em torno da organização do evento. “Acordamos cedo para enfeitar os cinco jegues que meu pai tinha e seguir para o centro e ver a festa. Nossos dias de trabalho pesado chegavam ao fim e a facilidade da água em casa era um presente”, relatam as irmãs Albertina e Raimunda.
Dia inesquécivel
A alvorada de fogos abriu o esplendoroso dia. Uma missa solene foi celebrada na Igreja Matriz de São Pedro, com a presença do bispo Dom Jaime. Após os agradecimentos, surpreendendo os participantes, Ademar Amorim convida a todos para irem à pista de pouso recepcionar o avião da Força Aérea Brasileira que trazia a Banda de Música da Escola Naval do Rio de Janeiro.
A comoção foi geral, os músicos desceram tocando a canção “A Banda”. Depois todos foram ao local, onde hoje é a Praça Coronel Lysias Rodrigues, na região central da cidade. Lá os jegues foram enfileirados em frente ao palanque, trajados para uma festa: machos de chapéu e lenço, e fêmeas com flores na cabeça e um laço no rabo. Uma porção de milho foi colocada à frente de cada jegue simbolizando seu alimento e sua liberdade. O então governador de Goiás, Otávio Lage, Dom Jaime e o prefeito eram as principais autoridades.
As escolas desfilaram diante da comunidade e das autoridades presentes e houve o desfile com um jegue em destaque num carro alegórico fantasiado, rodeado por duas belas moças. Em homenagem a libertação dos escravos, desfilou um pelotão inteiro de pessoas acorrentadas numa alusão aos escravos do passado, libertados pela Princesa Isabel. Um chafariz foi instalado para demonstrar a chegada de água em abundância para a comunidade.
Após o desfile de inauguração, o chafariz jorrou água e grande parte das pessoas caiu na festa se molhando para comemorar. Também foram inaugurados um parque infantil completo e a caixa d’água, que até hoje ainda jorra nos dias em que sua vazão é grande. Foram dois dias de grande festa onde os churrascos e bailes se espalhavam por todos os cantos da cidade. No Mangal, o beirarubu, comida típica dos índios, que consiste em assar a cabeça de gado na terra foi o prato principal.