Os US$ 30 bilhões que a ADM estaria disposta a pagar para fundir suas operações com as da rival Bunge, que tem uma usina de álcool e açúcar em Pedro Afonso, não serviriam “apenas” para criar uma máquina de agronegócios do porte da Cargill, que desde o início do século passado lidera o segmento no mundo.
A tacada, se confirmada, daria às americanas uma posição mais do que privilegiada no Brasil, onde o potencial de expansão da produção de culturas como soja e milho é inigualável e país no qual, de olho no esperado aumento da demanda global por alimentos, todas as grandes tradings multinacionais têm feito investimentos bilionários.
Juntas, ADM e Bunge seriam líderes absolutas em originação e exportação de grãos a partir do Brasil.
De acordo com fontes do BVMI, também teriam capacidade de armazenagem duas vezes maior que a da Cargill e quatro vezes superior à da Louis Dreyfus Company (LDC). Dentro do quarteto conhecido como “ABCD”, portanto, abriria no “celeiro do mundo” uma dianteira difícil de ser perdida em áreas-chave desse mercado, no qual a produção de biocombustíveis a partir de culturas agrícolas também ganha peso.
Em soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, Bunge e ADM foram responsáveis, no ano passado, pelo embarque de 9,4 milhões e 7,6 milhões de toneladas, respectivamente. Mas a Cargill “roubou” a coroa da Bunge no país nessa frente ao menos provisoriamente, com o embarque de 9,6 milhões de toneladas. Com ativos totais de R$ 17,5 bilhões e receita líquida de R$ 35,3 bilhões em 2016.
Em praticamente todos os portos brasileiros, a empresa resultante de uma união de ADM e Bunge também teria posição de destaque. Em Vila do Conde (PA), no Arco Norte, região onde a Cargill confirmou investimentos de mais de R$ 700 milhões (Leia matéria completa do BVMI aqui) no fim de 2017, ADM e Bunge movimentaram em 2016 cerca de 70% de toda soja e milho, ou 3,3 milhões de toneladas.
Em Santos, a chinesa Cofco perderia a liderança (2,9 milhões de toneladas) para Bunge (2,8 milhões de toneladas) e ADM (2,1 milhões). O mesmo cenário se repetiria em São Francisco do Sul (SC), Tubarão (ES), Salvador (BA) e Itaqui (MA). Em Rio Grande (RS) a liderança da Cofco não seria alcançada, mas ADM e Bunge ganhariam distância mais confortável de Cargill e Marubeni na segunda posição.
O interesse da ADM pela Bunge – que ainda está na mira da Glencore – pegou o mercado de surpresa, mas é considerado natural e pertinente. Estrategicamente, a ADM, que passou a investir mais em produtos de maior valor agregado nos últimos anos, ganharia escala em seu “core business” na América do Sul, na Europa e na Ásia e reduziria custos. “Na América do Sul seriam negócios complementares”, diz uma fonte.
Outra fonte afirma que é possível que a sobreposição de ativos como plantas de processamento e armazenagem exija a venda ou o fechamento de alguns deles. Foi o que fez a ADM décadas atrás, em um processo de consolidação de seus terminais portuários na região do Golfo dos EUA. O cenário de baixa rentabilidade do segmento, na época, era semelhante ao observado hoje. (Fonte – BVMI – Bettina Barros – Fernando Lopes/VALOR)