Texto e fotos: Henrique Lopes
Agropecuaristas, trabalhadores rurais e pessoas que estiveram presente no dia do incêndio que atingiu chácaras e fazendas a 20km de Pedro Afonso, nos últimos dias, compareceram a 11º Delegacia de Polícia Civil de Pedro Afonso na segunda-feira, 28 de agosto, para prestar esclarecimentos.
O fogo devastou uma área de 7.400 hectares no município.
Os depoimentos iniciaram por volta das 14h30 e foram acompanhados pelos advogados Rodrigo Fernandes e Leandro Gomes de Melo, contratados pelo produtor Juliano Sandri, um dos mais prejudicados pelo incêndio.
No total, dez pessoas que auxiliaram na contenção das chamas prestaram informações sobre o dia do incêndio que atingiu as propriedades, matando vacas e destruindo canaviais, lavouras de milhos, além de áreas de reserva legal e áreas de preservação permanente (APPs).
Os advogados informaram que após a conclusão do inquérito serão tomadas medidas legais. “Após a conclusão do inquérito veremos quais são as medidas que deverão ser tomadas, em relação aos prejuízos, morte de gado, destruição de pastos e também em relação a empresa Bunge, para saber se houve omissão frente ao incêndio”, afirmou o advogado Rodrigo Fernandes.
Já o produtor rural Juliano Sandri, que teve uma das áreas mais afetadas pelo incêndio, diz que é necessário achar um culpado. “Iremos tomar todas as providências cabíveis para tentar achar os culpados, para que possam ser responsabilizados. É um dano muito grande tanto moral, como financeiro, além de um prejuízo gigantesco ao meio ambiente”.
Produtor rural presta depoimento na Delegacia de Polícia Civil de Pedro Afonso
Após ouvir os depoimentos, o delegado Wlademir Costa Mota Oliveira informou que a investigação ainda aguarda o posicionamento dos órgãos responsáveis, como o Naturatins (Instituto Natureza do Tocantins), e também imagens captadas via satélite para que possam identificar onde começou o incêndio.
Conforme o delegado, já foi possível definir que o fogo começou no Lote 4 do Prodecer, se alastrando para o Lote 3 e para as fazendas adjacentes. “Nós já temos mais ou menos uma ação do fogo e que na terça-feira ele havia sido controlado, mas voltou a se alastrar na quarta, dia em que os produtores tiveram maior dano”, declarou o delegado.
Para Wlademir, a hipótese de que o fogo teria começado após um carro ter sido incendiado já foi descartada. “Houve realmente um veículo que pegou fogo na região, mas a área que ele foi incendiado não tem conexão com a região atingida”, completou.
Incêndio em números
Um balanço feito pelas Secretarias de Agricultura e de Meio Ambiente de Pedro Afonso constatou que dez propriedades foram afetadas pelo incêndio. Nelas a soma da área devastada pelo fogo chega a 1.360 hectares.
Entre as áreas atingidas estão plantações de mandioca, banana, pomares, pastagem, além de áreas de reserva legal e de preservação permanente, conhecidas como APPs. Cercas, currais e rebanhos inteiros também foram atingidos pelo fogo.
Apenas na “Fazendinha”, de propriedade do produtor Juliano Sandri, 60 cabeças de gado já morreram e seis quilômetros de cerca foram danificados. Já o pequeno produtor Adalton Pereira Santos afirmou que porcos e galinhas morreram após o incêndio. “É uma cena muito triste, perder as coisas com o fogo. Chiqueiro dos porcos queimou, galinhas perdemos quase todas, tudo se perdendo com as chamas”, conta o produtor que mora na região há 50 anos.
Ainda não foi possível mensurar os danos causados na área administrada pela Usina de Pedro Afonso, pois as informações não foram disponibilizadas pela empresa Bunge.
Conforme o Naturatins, estima-se que o fogo tenha se alastrado por mais de 2 mil hectares em toda a região.
Pesadelo
A reportagem do Portal CNN conversou com testemunhas que relataram o drama vivido nos dias de fogo intenso. Morador da região do Bananal há mais de três décadas, Luiz Mauriz Sobrinho nunca viu algo tão devastador.
“Estava tentando apagar o incêndio, quando veio chamas muito fortes. Eu corri e orei para não morrer queimado igual aos animais. Parecia que tudo iria se acabar em fogo. É como se estivesse em um corredor de chamas e que tudo que passava por ali ia morrer”, contou emocionado o vaqueiro da propriedade “Fazendinha”.
Já o operador de máquinas pesada, Mário Pereira de Assis, que também tem uma pequena propriedade na região, descreveu a quarta-feira, 23 de agosto, dia em que o fogo tomou maior proporções, como um pesadelo.
“Em meio ao fogo eu tentei salvar alguns animais, lembro que quando peguei um dos bezerros veio toda a pele na minha mão. Não dava para fazer muita coisa, era muito quente, as pessoas saíram de suas casas e foram para outros lugares”, relata o trabalhador que tem queimaduras de segundo grau nas orelhas.