Marcos André
Professor, especialista em Literaturas de Expressão Portuguesa: Portugal, Brasil e África.
Advogado, especialista em Educação e Direitos Humanos.
Janaúba entra para o cenário internacional como a cidade das crianças queimadas, parece até nome de filme, infelizmente não é. A história nos faz lembrar das grandes tragédias americanas, repletas de detalhes inexplicáveis, cheias de mistérios a serem explorados por veículos de comunicação e tão distante de nossa lida diária. Mas, desta vez, lamentavelmente o quintal atingido foi o nosso, exatamente assim, na primeira pessoa do plural, porque cada um de nós, ao menos os que ainda se sentem humanos está chorando a dor das famílias mineiras.
Eu particularmente, desculpem minha ignorância geográfica, nunca tinha ouvido falar de Janaúba, mas os jornais me fizeram perceber por meio daquelas crianças o quanto deixamos de lado o que deveríamos ter de melhor: nossa capacidade de sermos de fato humanos e amarmos nossos semelhantes da forma mais sublime.
Me vi impotente, ao perceber que a escola, local onde os alunos deveriam estar mais seguros, também se abriu a loucura humana, aos devaneios incontáveis de mentes desprovidas de sanidade. Damião Soares dos Santos, chega como o Nero moderno, matando nossa crença na humanidade, ainda que não devamos, mas os fatos por si só colocam sob questionamento nossa capacidade de pensar o próximo como ideal de semelhança.
A história ganha contornos ainda mais dolorosos, mas nem por isso menos banhados por uma beleza humana tão em falta, quando nosso olhar encontra, ainda que apenas por fotos ou por meio dos vários relatos, a professora Helley Abreu Batista, que mesmo com o corpo em chamas lutou de forma inominável para salvar os alunos que ela tinha como se de sua gênese fossem...
Helley Abreu e Damião Soares são emblematicamente o retrato de nossa vida diária, de um lado uma educadora que mesmo desfigurada pelo fogo, malhada como ferro em meio as chamas lutou pela vida dos que lhe rodeavam, brigou heroicamente para que tivessem chance de perpetuar a história, mesmo que cidadãos ainda tão pequenos. Na contramão dessa hercúlea luta, Damião Soares, ávido por incendiar não apenas corpos, mas antes e acima de tudo por derreter sonhos, por macerar anseios...
Os queimados de Janaúba se foram, mas suas feridas doem em cada um de nós, nos irmanamos como pais, irmãos, amigos, educadores no sofrimento das famílias atingidas e nos entregamos ao clamor intenso para que aprendamos mais sobre a inegável necessidade de amarmos.