Poemizando a vida

Saudosismo pedroafonsino

15/07/2017 07h48

Lia Raquel

É tarde. Lá fora ainda há o murmúrio de alguns pedestres e de poucos carros. Os semáforos piscam ao dizer que já passa da meia-noite. Deixei a janela aberta de forma proposital – quis contemplar um pouco mais aquela lua redonda e grande. A cortina dança de lá para cá ao brincar com o verto forte. Abri meu guarda-roupa e peguei o edredom mais avantajado em espessura e conforto. Mesmo deitada, não quis dormir. A saudade roubou o sono.

Como em cenas rápidas de filme, minha mente começou a trazer lembranças de um passado um pouco distante. Ali estava eu sendo ora personagem, ora observadora dos fatos. As memórias me puxaram pelo braço e me levaram até a Praça Coronel Lysias Rodrigues. Vi vários colegas uniformizados sentados nos bancos após a sexta aula de segunda-feira. A fonte jorrava água e, juntos, contemplávamos aquela novidade. Antes de voltar para casa, como numa espécie de ritual, passamos na Sorveteria do Didi.

Nessa sequência agradável e saudosa, fui à Rua Constâncio Gomes. Eu quis demorar todo o meu tempo nessa lembrança. Passei minha infância e adolescência subindo e descendo aquela ladeira de bloquetes. No sol, na chuva, a pé, de bicicleta e com a turma. Sempre era festa- quando não tinha na escola, a gente inventava no caminho. Dentro dessa inocência infanto-juvenil vivi dias inesquecíveis.

Peguei meu relógio em cima do criado e me assustei ao perceber que os ponteiros tinham andado rápido demais. Ainda assim me permiti continuar naquela “viagem” gostosa. Passei pela passarela, pelos Rios Sono e Tocantins. Comi peixe assado na praia. Revi muitos colegas. Relembramos a vida. Senti aquele ventinho que o mês de julho traz. Passei pelas ruas históricas, palcos de tantas aventuras. Visitei a cidade toda.

O sono começou a disputar atenção com a saudade, mas não conseguiu. Ela ficou e, na verdade, sempre ficará e sem concorrência. Meu paraíso pessoal cresceu e evoluiu em tamanho e desenvolvimento. Do lado de cá acompanho esse processo. Com seus 170 anos , a querida Pedro Afonso continua deixando essas marcas de lembranças em todos os que já viveram ou passaram por lá.

As memórias insistem em ficar. A bem da verdade nem precisam pedir mais de uma vez. Meu coração deixa sem hesitar. Deixo meus parabéns e orgulho por mais um aniversário dessa cidade tão benquista, amada e única. Daqui, continuarei assistindo a essa história .

De uma pedroafonsina de sangue, alma e coração.
 

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