Educação e Cultura

OPINIÃO

Confira artigo: Apartheid educacional

31/07/2017 19h48 - Atualizado em 28/08/2017 08h43

Marcos André Silva Oliveira
Professor de Língua Portuguesa da rede estadual de ensino.
Especialista em Literaturas de Expressão Portuguesa: Portugal, Brasil e África.


Não é necessário ser um profundo conhecedor de história, todos nós uma vez ou outra já ouvimos falar do apartheid e consequentemente de Nelson Mandela, líder africano que lutou contra o sistema de segregação racial, a opressão de uma minoria branca sobre um número grande de negros. “Hoje, após merecidos 30 dias de férias”, fala de nossa secretária estadual de Educação, ao menos nesse quesito ela foi feliz. Nós, educadores do estado de Tocantins retornamos as escolas e somos tomados por uma orientação advinda da Secretaria Estadual de Educação (SEDUC), que ao menos a mim, de tão bizarra, soou como uma afronta ao tão mencionado estado democrático de direito, um tapa na face de todos aqueles que lutaram ou lutam pela inserção dos menos favorecidos, pela minoração de todas as diferenças entre os homens, além de configurar um embuste em desfavor da dignidade da pessoa humana.

Sob o título de reenturmação, as escolas contarão agora com um sistema de separação de alunos, como se trata de um artigo de opinião, e para não correr o risco de ficar enfadonha a leitura, o aludido processo pode ser sintetizado da seguinte forma: alunos com média igual ou maior que 7.0, serão intitulados nível 1, os que contarem com notas entre 5.0 e 6.9, ficarão em salas de nível 2, e aquele abaixo de 5.0 se juntará a outros iguais a ele, com o título de nível 3.

Minhas mãos de véspera se estendem para receber as bordoadas de palmatórias, se meu raciocínio estiver equivocado. Mas, separar alunos com base nas médias, ganha o formato de um apartheid moderno, onde os menos favorecidos, com famílias em situação de risco social, ou os moradores da zona rural, que em grande parte são os que aprendem de forma mais lenta, em virtude de uma série de fatores, continuarão a amargar as margens de um processo educacional já tão sofrido e questionável.

Eu prefiro acreditar que o jurídico da Secretária Estadual de Educação não tenha sido consultado, porque a Declaração Universal dos Direitos Humanos, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a Carta Magna desse país e tantos outros institutos jurídicos são cristalinos quando rechaçam toda e qualquer forma de discriminação, e agrupar alunos em salas de aulas tomando como pressuposto as notas ganha a aparência notória de uma segregação institucionalizada.

Dessa forma, convido a nobre secretária Wanessa Zavarese Sechim e seus técnicos, diretores regionais, que também pensaram a proposta, para que sentemos, nós, professores em efetivo exercício de sala de aula, pais e alunos para que possamos problematizar a referida proposta, e assim, juntos, democraticamente e de forma efetiva cheguemos a um denominador comum sobre o que de fato é melhor para o aprendizado de nossos alunos.






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