Educação e Cultura

DENÚNCIA

Faculdade Rio Sono é acusada de "cancelar" curso e atrasar pagamentos de servidores; diretor nega irregularidades

22/08/2017 14h57 - Atualizado em 23/08/2017 11h59

Henrique Lopes

Alunos da Faculdade Rio Sono (RISO), de Pedro Afonso, vivem o drama de não conseguirem dar continuidade aos estudos depois que o curso de Tecnologia Agroindustrial, segundo eles, ter sido cancelado ao término do último semestre.

Os alunos contam que os primeiros boatos de que o curso seria cancelado surgiram após a visita da equipe de avaliação do Ministério da Educação, que exigiu a construção de um laboratório para atender os estudantes durante as aulas práticas.

“Recebemos recados de que o curso iria acabar, pois a faculdade teria que montar um laboratório avaliado em R$ 150 mil e o curso não estava dando retorno financeiro à instituição”, lembra indignada a aluna Madalena Pereira Costa, de 24 anos.

Conforme os alunos, nenhuma notificação oficial foi feita sobre o cancelamento do curso. “Não recebemos nenhum documento, falaram que deveríamos migrar para outro curso ou iríamos receber o dinheiro de volta, mas tentamos marcar reunião, mas o diretor da instituição não nos atende ou e não aparece para dialogar”, afirmou Ataísa Tavares de Sousa, de 20 anos.

Único do grupo de alunos a conseguir conversar com o Antônio Edmar Jacinto da Silva, atual responsável pela Faculdade Rio Sono, Josivaldo Sebastião dos Santos, de 23 anos, explicou que nenhum acordo foi firmado, apenas repassadas a proposta de que eles poderiam mudar de curso ou serem reembolsados.

“Caso optássemos em ir para outro curso, teríamos que arcar com os custos das mensalidades e muitos aqui não têm condições de pagar o valor, até porque é superior ao curso que escolhemos. Ou poderíamos ter nosso dinheiro de volta, mas depois disso não foi dito mais nada”, declarou.

Segundo a estudante Poliana Araújo, a turma que fazia o 2º semestre do curso contava com de oito alunos, sendo que três tinhas bolsas de estudos integrais e três parciais, com abatimento de 50% na mensalidade. O valor da mensalidade era de R$ 250,00. Ela revelou que em nenhum momento os bolsitas foram ouvidos pela instituição. “Ele excluiu os bolsistas, como se não tivéssemos vez de opinar ou questionar. Para ele é como se estivesse fazendo um favor”, argumentou chateada, a jovem de 23 anos.

Além da falta de diálogo, os acadêmicos também relatam que foram proibidos de solicitar documentações junto à instituição. “Solicitamos cópias do contrato, mas disseram que a pessoa responsável havia sido demitida e que desta forma não teriam autorização para nós passar os contratos que fizemos quando ingressamos no curso”, conta Noiara Sousa Rios, de 21 anos.

Alunos desmotivados


Alunos do curso de Tecnologia Agroindustrial se sentem prejudicados pelo "cancelamento" do curso e esperam solução para o problema


Com o início do semestre letivo e o não retorno das aulas, os alunos estão preocupados com o futuro acadêmico, já que muitos deles não teriam condições de arcar com as despesas de outra graduação e estão desmotivados devido ao cancelamento das matrículas e do tempo e recursos que foram gastos nos dois períodos do curso. “Você se esforça, deixa casa, esposo, filhos, para se dedicar aos estudos, buscando dias melhores e do nada o curso é cancelado, sem nenhuma justificativa plausível”, descreveu incrédula Madalena Pereira, que é mãe de dois filhos.

“É muito complicado, pois gastamos tempo, deixamos de ficar com nossos filhos, nos dedicamos e cancelam o curso sem dar uma solução para nós”, ressaltou revoltada Poliana Araújo, que apesar de ser bolsista, é mãe de três filhos e precisava pagar babar parra ficar com as crianças enquanto ia para as aulas.

Já o estudante Josivaldo Sebastião dos Santos, que é funcionário da usina da Bunge, afirmou que trabalhava durante todo o dia e a noite iria para a faculdade. “Era uma forma de conseguir uma condição melhor de trabalho, avançar dentro da empresa e neste momento estamos sendo podados, pois todo o investimento de tempo foi em vão”, disse desmotivado o jovem operador de máquinas.

Crise afeta corpo técnico e docente

Além do cancelamento do curso, a Facultada Rio Sono estaria enfrentando outros problemas como a falta de pagamento de funcionários e até mesmo dos serviços como água, eletricidade e internet.

Uma funcionária, que preferiu não se identificar, relatou que além dos salários, as despesas continuadas da instituição como internet, água e energia já estão atrasadas. “Alguns serviços estão prestes a serem interrompidos”, afirmou.

Outra informação é que a faculdade enfrenta processos judiciais em virtude de possível invalidade dos diplomas referentes à segunda graduação, conhecida como complementar, que estaria sendo ministrada na faculdade. Entretanto esta graduação, que demoraria cerca de um ano para ser concluída, não teria diploma reconhecido. “Já tivemos casos de processos abertos por alunos de outros estados, que fizeram essa modalidade e tiveram seus diplomas negados, inclusive há faculdades que estão se desvinculando da Riso”, revelou.

Em relação ao pagamento dos funcionários, a ex-professora da instituição Nanashara Gomes Arrais‎ disse que o corpo docente era contratado de acordo com o período de aulas, e que no primeiro semestre de 2017, as aulas haviam começado em 13 de fevereiro e terminado em 15 de junho. “Sempre dava uma atrasadinha nos salários, mas esse ano foi pior. Alguns professores já receberam, mas outros ainda estão esperando para receber os 15 dias do mês de junho e os acertos”, revela a engenheira agronômica, que também era coordenadora do curso de Tecnologia Agroindustrial e que contou não ter sido notificada sobre o cancelamento do curso.

Também professor da faculdade, Leonilson Carvalho da Silva, que ministrou as disciplinas de matemática, química e física durante um ano, é mais um dos que esperam pelo pagamento. “Desde o ano passado, o recebimento sempre foi atrasado, todos os meses, só recebia no final do mês. Isso desmotiva todos os profissionais, pois você faz compromissos com esse recurso”, conta indignado.

Segundo o professor Marcos André, atualmente, a Faculdade Rio Sono não dispõe de um cenário de credibilidade, tendo como um dos fatores o fechamento do curso de Tecnologia Agroindustrial. “Os alunos ingressaram no curso e por problemas de rentabilidade o curso foi encerrado, como alegou o diretor da instituição”, declarou Marcos André, que trabalhou um ano na instituição, ministrando as disciplinas de português instrumental, metodologia científica e legislação agroindustrial.


Resposta da instituição

Em resposta às reclamações, o diretor da faculdade Rio Sono, Antônio Edmar Jacinto da Silva, afirmou que o curso de Tecnologia Agroindustrial não foi cancelado e que a suspensão da formação ocorreu devido à baixa avaliação pelo sistema do Ministério da Educação (MEC).

“Fizemos um remanejamento da turma, devido a nota dois que o curso teve na avaliação do MEC [Ministério da Educação], precisamos fazer melhorias e solicitamos que os alunos migrassem para o curso de administração, pagando o mesmo valor que o curso atual”, declarou Antonio Edmar.

Já a procuradora institucional da Faculdade Rio Sono e também representante da Sociedade Brasileira de Educação (Sobe), Sônia Nogueira, afirmou que não é de interesse da instituição fechar o curso. “Não há interesse em fechar um curso, pois nosso objetivo é fazer a faculdade crescer. Estamos montando o protocolo de compromissos para que ele continue e iremos nos reunir com os alunos em busca da melhor solução, pois é necessário manter o diálogo”, afirmou.


Sobre os pagamentos atrasados dos servidores, o diretor geral da instituição rebateu as afirmações e destacou que apenas alguns professores ainda não receberam os honorários de junho, pois não apresentaram o relatório de atividades, listando as horas trabalhadas. “Não há atraso de salários, alguns docentes ainda não receberam os valores do mês de junho, pois não foi acertada a listagem dos dias trabalhados, mas na próxima terça ou quarta-feira, já será efetuado o pagamento, completou.

Já em relação a falta de livros e de estrutura pedagógica, Edmar ressaltou que foram investidos mais de R$ 1 milhão na instituição e que agora está conversando com os prefeitos de Pedro Afonso e de municípios vizinhos, em busca de mais investimentos e do forlatecimento da Faculdade Rio Sono. Segundo Edmar, reclamações e publicações de falhas da instituição são consideradas um “desrespeito a quem está buscando ajudar a cidade”.
 

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