Cidades

LOCAL DE TRAGÉDIA

Após vistoria, Defesa Civil mantém interdição em gruta de Santa Maria

08/11/2016 12h26 - Atualizado em 10/11/2016 16h29
Após vistoria, Defesa Civil mantém interdição em gruta de Santa Maria
Wherberth Araújo

Passada uma semana do trágico acidente que vitimou dez pessoas no município de Santa Maria do Tocantins, a 278 quilômetros de Palmas no desabamento de parte do teto de uma gruta onde se realizava uma cerimônia religiosa, o Governo do Tocantins, por meio da Defesa Civil Estadual, manteve a interdição do local uma vez que a área ainda permanece com sua estrutura instável e propícia a desabamentos. No local, foram instaladas placas e faixas informativas alertando para o risco de novos desmoronamentos.

A convite da Defesa Civil, técnicos da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) estiveram no local nesta segunda-feira, 07, para realizar vistorias e constataram que a “Casa de Pedra”, como é conhecida pelos moradores, oferece sérios riscos em sua estrutura. Segundo o Diretor Executivo da Defesa Civil, o major bombeiro Diógenes Madeira, na vistoria, foi identificada que a gruta é frágil e possui riscos iminentes de novos desmoronamentos. “Orientamos a gestora municipal como também o proprietário da área particular onde está localizada a gruta para que alertem a população a não adentrar naquele espaço a fim de minimizar riscos de vida caso haja novos desmoronamentos”, afirmou.

Vistorias
Segundo o professor doutor da UFT, o espeleólogo Fernando Morais, após a visita técnica, foi identificado pontos de fraqueza da rocha que coincidem com o desmoronamento. O espeleólogo afirmou que em termos de risco geológico, existe a possibilidade de novos incidentes de desmoronamentos. De acordo com o doutor, o Tocantins possui outros espaços semelhantes de manifestação religiosas como nos municípios de Arraias e Lagoa da Confusão, mas que os organizadores devem procurar o poder público para averiguar se aqueles espaços estão adequados para este tipo de celebração e se possuem um plano de manejo de uso sustentável. “Nenhuma cavidade deve ser visitada ainda que esporadicamente sem o acompanhamento de alguém habilitado. Estes espaços não devem ser visitados sem que antes tenham passado por um estudo de capacidade de carga e adequação ao turismo”, afirmou.

Para o geólogo do DNPM, Fábio Lúcio Martins Júnior, na gruta foi identificado um trecho de fratura formando um ângulo de 90 graus que em alguns pontos estão ainda abertas, com cerca de um centímetro. O técnico observou que trecho rochoso ao lado do deslocamento está coeso não mostra sinal de instabilidade, ao contrário do local do acidente, onde a rocha ainda está instável e com sinal de rupturas. Sobre as possíveis causas do acidente, o geólogo afirmou que para se ter precisão, seriam necessários estudos com equipamentos sensíveis a ruídos sonoros. Entretanto, ele argumentou que a confirmação de barulho provocadas por rojões e foguetes poderia ser o efeito catalizador da tragédia. “Vibrações sonoras causam ondas de choque e podem gerar danos a uma estrutura que já esteja comprometida. A princípio, sabemos que as vibrações sonoras aceleram o processo de queda, mas independentemente do incidente sonoro, a ruptura no local já estava prestes a acontecer”, afirmou.

Lugar de Memória
Segundo informações de moradores locais, as manifestações religiosas na “Casa de Pedra” já aconteciam há quase 200 anos. A tradição, passada de geração para geração, fez com que milhares de moradores daquela região entendesse como sagrado aquele espaço, que já chegou a receber milhares de fiéis em celebrações realizadas sempre no dia 1º de novembro. Com uma área de 30 metros de largura por quatro de altura, o salão principal da gruta se tornou, ao longo dos anos, objeto de peregrinação de romeiros, atraídos principalmente pelo dogma de que uma imagem religiosa havia sido encontrada no interior da caverna, séculos atrás.

 Para a servidora pública Lucidalva Lourenço de Oliveira, até o momento do acidente, a responsabilidade de manter a celebração estava em sua família, tendo como líder seu tio, Valdemir Lourenço de Oliveira, de 57 anos, uma das vítimas fatais do desabamento. “ Não só pela tristeza que se gerou com o acidente, como também a perda de um tio, nossa família pretende não realizar mais celebrações naquele lugar”, afirmou. Segundo a prefeita de Santa Maria, Helen Ruth Freitas Souza, além de ainda oferecer riscos de novos desabamentos, após o acidente a gruta se tornou um lugar de lembrança pela trágica partida de dez fiéis. A gestora municipal informou ainda que já orientou a comunidade a não adentrar no espaço devido às instabilidades geológicas. “Entendemos o processo de dor e luto dos nossos moradores e vamos discutir com todos a possiblidade de se encontrar um novo espaço para que sejam realizadas as celebrações com segurança”, afirmou.

Entenda
Acontecida no dia 1º de novembro passado por vota das 10h30, a tragédia no município de Santa Maria causou a morte de 10 pessoas aconteceu em uma área rural no município, distante a 278 quilômetros de Palmas. O incidente deixou outras sete pessoas gravemente feridas. As vítimas eram dos municípios de Pedro Afonso, Itacajá e Santa Maria, região Centro- Norte do Tocantins. O Governador Marcelo Miranda decretou luto oficial de três dias em homenagem às vítimas. (Wherbert Araújo/ Governo do Tocantins)








VEJA TAMBÉM: