Educação e Cultura

CRÔNICA

“Eu vou te jogar num pano de guardar confetes”

21/03/2016 16h28 - Atualizado em 22/03/2016 15h50

Lia Raquel M. Lacerda

Pedroafonsina, bacharel em Direito e escritora

A noite estava quente, mas a brisa que a orla trazia conseguia aliviar o incômodo. Ao som de “Eduardo e Mônica”, jovens sentiam saudade de Renato Russo. Outros, em uníssono, cantarolavam Roupa Nova, Carolina e Nando Reis.

Naquele flutuante era possível observar crianças absurdamente felizes apenas pela posse de um catavento. Do outro lado, numa mesa representativamente masculina, o PT e a situação não tão benquista do nosso país ganhavam força.

Havia ali muitos universos presos em um só. Sonhos eram desenterrados, enquanto o cantor selecionava a próxima canção. Barcos eram avistados ao longe, na escuridão colorida pelas estrelas e luzes urbanas. Famílias passeavam no calçamento sob o convite do moço da pipoca, do algodão-doce, dos balões que voavam e de um bom e gostoso tucunaré.

As cenas realmente roubaram intuitivamente minha atenção, mas, confesso que uma delas centralizou minha poesia, meus versos e admiração. Entre um pedido e outro, notei a presença de um casal de meia idade que mais parecia um jovem casal apaixonado. Não sei se aquela união era fruto de uma juventude prolongada, de um casamento reconstruído ou se começava ali. Sinceramente, a razão não importava. A partir daquela “vista romântica”, tudo ao redor parou para mim. A vida continuava, os risos vindos das mesas aumentavam a entonação e os pais das crianças, nesse momento, já haviam se rendido à pipoca e ao catavento. Meu olhar, no entanto, por alguns bons instantes, ficou detido naquele poema vivo.

De onde eu estava, não conseguia ouvir nenhuma palavra vinda de lá, do cantinho deles. Pensando bem, nem precisou. O olhar e os beijos de quem se ama são conhecidos de longe , ou quem sabe, a algumas mesas de distância. Saí dali ao som de Zé Ramalho e com a quase certeza de que aqueles dois se agasalhariam num pano de guardar confetes - com festa boa, com amor que ainda existe e com aquela brisa (poética, sincera e única) da orla.

 

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