Marcos André Silva Oliveira
Professor de Língua Portuguesa e Bacharel em Direito
O discurso que vitimiza bandidos e na contramão do socialmente aceito ou esperado vilaniza policiais, tem extrapolado os limites do possível e imaginável. A mídia tem vendido à imagem de uma polícia que parece totalmente corrompida, e o gravame é que a venda tem sido bem sucedida uma vez que expressiva fatia de nossa sociedade tem gritado aos quatro cantos quando a marginalidade é presa e insistentemente silenciado quando sangra uma farda.
Nada contra os ativistas dos Direitos Humanos, entendo também que eles não são apenas o Direito dos Manos, como popularmente alardeiam. Mas, ao menos que eu esteja enganado, e logicamente as mãos estão estendidas prontas a receberem o peso das palmatórias, mas o grito por justiça não ecoa tão forte quando milhares de crianças passam fome pelas ruas, quando idosos são maltratados, quando mulheres são vítimas de seus parceiros. Mas, basta que um avesso as leis seja preso que ouve-se aos montes o eco dos Direitos Humanos a tripudiarem sobre as forças policiais, pintando com as cores que bem desejam a atuação de agentes que em sua maioria esmagadora estão no meio social com o claro intuito de defenderem o cidadão de bem.
Eu não era amigo do Soldado Ivan Borges de Lima nem do Sargento Paulo Pereira da Silva, mas as lágrimas vieram a face de forma involuntária, me senti irmanado na dor desses familiares e amigos. Li a biografia lançada nas inúmeras reportagens e minha dor aumentou por saber que a filha do praça Ivan Borges irá crescer sem a presença do pai, que seus olhos testemunharão uma cadeira vazia no dia de sua formatura, que suas mãos não se estenderão para o abraço apertado no dia dos pais, que o natal terá um sabor de ausência...
Chorei por saber que o Sargento Paulo Pereira deixará um vazio irreparável no coração de seus familiares, não li se era casado, se tinha filhos, mas se os tinha agora eles são banhados pela amarga revolta daqueles que sentem quando um familiar tem a vida ceifada de forma cruel. Em uma luta desleal, em um 15X2, Paulo não resistiu e deixou órfão um país já tão carente de segurança.
E nesse cenário tão conturbado, quando a realidade parece já manchada demais, meus olhos se deparam com uma manchete que só ganhou as raias da credulidade quando li pela centésima vez. A câmara de vereadores de Barrolândia permitiu que o corpo de um dos assassinos do SD Ivan fosse velado na casa de leis, e as bandeiras ficaram a meio mastro em claro sinal de luto. Não estou aqui tripudiando sobre a dor da família do homicida, mas a menos que esteja eu extremamente enganado, meias bandeiras, e uma casa de leis são para pessoas de relevante valor social, homens e mulheres que em vida foram protagonistas na construção de um mundo digno, o que não parece ser o caso do de cujus em questão.
A Capital do Mel se amargurou com esse episódio dantesco e de tamanho mal gosto e clara afronta a família dos policiais, que assim como menciona o hino nacional, foram homens que fizeram jus ao verso “verás que um filho teu não foge à luta, nem teme quem te adora a própria morte”.
Todo esse cenário nos coloca diante do óbvio, perderam-se todos os valores, Michel Foucault é claro ao falar das instituições e sua importância social. E hoje o que presenciamos é a falência da família, da igreja, da escola e das forças policias, e na contramão assistimos desolados ao agigantamento de um discurso que legitima a atuação de bandidos e facínoras de todas as cores, marcas e tamanhos.
Minhas palavras certamente não trarão de volta os nobres guerreiros, mas seria eu omisso ao extremo se não as escrevesse, porque a dor desses familiares e amigos, no acelerado ritmo de quebra de valores em que vivemos, pode em um amanhã próximo ser presença em nossas vidas.