Pedroafonsina, bacharel em Direito e escritora
Aos amigos da Rua 8
Éramos felizes e sabíamos disso. Tínhamos encontros marcados todos os dias sem a permissão de Fernando Sabino. A Rua 8 era o nosso chão. Corríamos desesperados com uma alegria que só quem foi criança de verdade consegue entender. Como ninguém, brincamos no último volume. A felicidade sempre andava solta por ali. Ela diariamente nos visitava e fazia morada no nosso riso, nas peraltices, na correria boa. Nossa maior preocupação era comer “ligeiro” e fazer as tarefas escolares, porque assim estaríamos todos liberados para o cronograma do dia.
Sinto falta das tardes badaladas. Suávamos de tanto gargalhar mesmo quando a bola caia na casa da vizinha chata ou quando caia debaixo daquela caminhonete antiga. Nossos dias seguiam dentro dessa alegria ao som do apito do moço do algodão-doce, ao cheiro do cachimbo da Dona Eva e das ofertas de ovos e hortaliças da Dona Florisa.
O lote do seu Luís também foi palco das nossas invenções. Lá, inventamos a brincadeira do jacaré (produção e criação inteiramente nossa!). O esquema funcionou. De um morro de terra a outro e o suposto jacaré ao centro. A felicidade prolongava no tempo e nos nossos gritos infantis. Era rotina. Rotina boa. Saudosa com um gosto tão grande de volta ao passado que posso senti-la agora aqui dentro de mim. Apostamos corrida com a Zazá, cadelinha esperta da rua. Tivemos lagarta-de-fogo. Quedas do pé de caju. Pé machucados por cacos de vidro na casa do Seu Bonifácio. Dramas que só nós sabíamos fazer, mas nada que o afeto da Regina não resolvesse. Era a mãezona, a defensora.
“Bandeirinha estourou, pé na barra, por favor!”, não cansávamos nunca de cantarolar e ir em busca da tão estimada bandeirinha. Íamos com vontade, com os pés na terra e o calor na testa. Disputávamos aquele tapete abandonado. Corríamos, depois de algumas campainhas tocadas. Assim seguíamos sem qualquer cansaço.
Tudo isso é parte de uma memória antiga, mas que insiste em ficar.