Cidades

FOGO SEM CONTROLE

Incêndios: prejuízos e aumento de doenças

29/08/2015 16h37 - Atualizado em 05/09/2015 14h26
Incêndios: prejuízos e aumento de doenças
Ilustração

JD Matos e Fred Alves

Nesta época do ano aumenta o risco de incêndios ambientais, tanto na cidade como na zona rural, sobretudo pelo calor excessivo, que deixa a vegetação seca. A umidade do ar também fica mais baixa, o que favorece a propagação do fogo. Em nossa região nos últimos dias foram registrados vários focos de incêndios.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que faz o monitoramento de queimadas e incêndios florestais, indica que do último dia 1º de agosto até esta segunda-feira, 24, já haviam sido registrados 190 focos de calor em Pedro Afonso, 132 em Bom Jesus do Tocantins e 39 em Tupirama.

O pecuarista José Antônio Wanderlei, dono de uma propriedade no município de Bom Jesus do Tocantins, é uma das vítimas dos incêndios na região. Não é a primeira vez que a propriedade é atingida, em 2013 o incêndio queimou parte do pasto e da cerca. Agora, no mais recente, que ocorreu no último dia 6 de agosto, voltou a queimar oito alqueires de pastos e 10 quilômetros de cerca. Segundo ele, o fogo veio de um canavial, vizinho à sua fazenda, que produz cana de açúcar para a usina da Bunge, em Pedro Afonso.

O produtor ainda não avaliou o total do prejuízo, entretanto devido às queimadas teve que parar com a produção de leite, principal fonte de sua renda, pois sem pasto e dependendo de ração, a produção caiu e o custo aumentou. Wanderlei está tomando as providências legais para tentar conseguir cobrir, pelo menos, parte do prejuízo.
Cresce número de doenças respiratórias

A fumaça provocada pelas queimadas contribui para o aumento significativo no número de atendimentos a pacientes com doenças respiratórias. Dentre os principais sintomas estão a tosse seca, cansaço, ardor nos olhos, nariz e garganta, e ainda falta de ar e respiração ofegante. As maiores vítimas são crianças e idosos.

Aos 66 anos, o pai da servidora pública Margareth Mariano foi internado recentemente no Hospital Regional de Pedro Afonso (HRPA), após uma crise de bronquite asmática. “Nesta época com o excesso de fumaça ele sempre piora”, comentou a pedroafonsina.

O médico Carlos Magno Sales atende no HRPA e na Unidade Básica de Saúde Pedro Zanina, em Pedro Afonso. Segundo ele, neste mês nota um aumento significativo das doenças respiratórias. “Nesta época do ano devido ao excesso de queimadas nos campos e a baixa umidade do ar, doenças autoimunes como asma, faringite e bronquite, mais comuns em crianças e idosos, exacerbam neste período. Essas infecções virais respiratórias se não tratadas precocemente poderão evoluir para uma infecção secundária causada por bactérias levando a pneumonia”, explicou.

No HRPA a informação é que em agosto aumentou em cerca de 20% as consultas médicas de pacientes idosos com problemas respiratórios, principalmente com doenças como pneumonia, asma e bronquite.

Vereadores vão acionar o Ministério Público
Na manhã desta segunda-feira, 24 de agosto, os vereadores de Pedro Afonso também falaram a respeito das constantes queimadas, bem como seus prejuízos ao meio ambiente e à saúde humana.

O vereador Rodrigo Lustosa (PSD), que já trabalhou na usina da Bunge, afirmou que a empresa costuma colocar fogo não canaviais para facilitar a colheita. “Trabalhei lá e vi que queimam para colher. Todo trabalhador da Bunge sabe que se coloca fogo para colher. Por que quando a cana está pequena não pega fogo, só grande?”, questionou.

Na ocasião, Sirleide do Movimento (PMDB) solicitou que seja enviado um ofício ao Ministério Público Estadual, assinado por todos os parlamentares, pedindo a abertura de investigação criminal para apurar a ocorrência de queimadas sem controle em Pedro Afonso.

Bunge nega que faça queimadas em canaviais
A Bunge enviou uma nota para o CNN afirmando que não realiza queimadas controladas para a colheita da cana-de-açúcar na usina de Pedro Afonso. De acordo com o documento “ao contrário, a usina realiza colheita 100% mecanizada, e necessita que a cana esteja crua para manter a rentabilidade e o processamento industrial adequado”.

A empresa ainda explica que a cana ao ser queimada, perde qualidade e precisa ser processada em até duas horas para que não ocorra perda de produtividade e prejuízos à operação. “Além disso, a empresa não tem nenhum interesse em prejudicar o meio ambiente e a comunidade. Portanto, utiliza toda a tecnologia disponível e modernos equipamentos para colheita e processamento da cana-de-açúcar”, esclarece ainda a empresa.

Ainda segundo a Bunge, assim como os proprietários de áreas vizinhas aos canaviais, a empresa desconhece a origem dos incêndios circunstanciais que vem ocorrendo na região e está registrando Boletim de Ocorrência para que as causas do fogo sejam apuradas pela Polícia Civil.

A empresa conclui a nota informando que possui caminhões-pipa e uma brigada de incêndio especializada e treinada para combater os focos de incêndio. “A usina possui um Plano de Emergência e ações de contingência e prevenção, que envolvem desde o monitoramento de canaviais por câmeras, ações educativas junto a escolas e comunidade, até a preparação e limpeza de aceiros para evitar o surgimento e a propagação de possíveis focos de incêndio”, finalizou.

Como denunciar
O supervisor do Escritorio Regional do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) de Pedro Afonso, Maurício Barros, informou que as pessoas podem fazer denúncias em relação as queimadas por meio do seguinte telefone 0800 631 155, ou via internet, ou pelo site da própria instituição (www.naturatins.to.gov.br); também podem ser feitas na sede do Naturatins, localizada na Rua Constâncio Gomes, ou na sede do destacamento da Companhia Independente de Polícia Militar Rodoviária e Ambiental (Cipra).

Barros explicou que as pessoas que ateiam fogo cometem crime ambiental e estão sujeitas a multas no valor de R$ 1 mil por hectares ou fração conforme previsto no artigo 58 do Decreto Federal 6.514-2008, tipificado como crime ambiental de acordo com o artigo 41 da Lei de crimes ambientais 9.605-1998 com pena de reclusão de dois a quatro anos, mais multa.
 

VEJA TAMBÉM: