As propriedades nutricionais da mandioca são bem conhecidas. Da raiz rica em carboidrato se fabrica farinha e polvilho, para citar apenas duas de suas utilidades. Já a folha, onde se concentra vitamina A e ferro, é muito usada na produção da multimistura (utilizada no reforço alimentar, sobretudo de crianças com baixo peso).
Em Pedro Afonso a planta é cultivada, principalmente, por pequenos produtores e algumas espécies como a Pé de Anta e a Rabo de Cotia, somente são encontradas no município. Porém, a produtividade ainda é considerada baixa. Problema que caminha para ser solucionado. Com apoio da Embrapa Pesca e Aquicultura e a Embrapa Mandioca Fruticultura, a Cooperativa Agroindustrial do Tocantins (Coapa) está implantando o projeto Reniva (Rede de multiplicação e transferência de manivas-semente de mandioca com qualidade genética e fitossanitária).
Também são parceiros da iniciativa o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), a Secretaria de Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária (Seagro) e o Instituto de Desenvolvimento Rural do Estado do Tocantins (Ruraltins). A intenção também é que a Prefeitura de Pedro Afonso apoie o projeto.
Em uma área com dois hectares na Fazenda São João, a 50 quilômetros de Pedro Afonso, foi implantado um campo experimental. A terra foi cedida pelo agricultor Evanis Roberto Lopes.
“O objetivo é testar as variedades de mandioca que melhor se adaptam a região e fornecer materiais que tenham boa qualidade de sanidade e, consequentemente sejam mais produtivas. É um projeto pioneiro no Tocantins”, explicou o técnico agrícola Fernando Antônio Teixeira, responsável pelo projeto em Pedro Afonso.
A equipe da Coapa começou o trabalho em novembro de 2014 com o recolhimento de variedades em 25 pequenas propriedades rurais de Pedro Afonso. “Foram 31 variedades já recolhidas, número que deve chegar a 50. Coletamos informações sobre o histórico, ciclo produtivo, produtividade e tipo de utilização da mandioca, se é para mesa ou farinha. Com essas informações está sendo montado um banco de dados”, contou Teixeira.
As cultivares foram semeadas na área experimental em Pedro Afonso. Desde 2014 foi feito projeto sistematizado de produção com adubação de plantio, controle de ervas daninhas com herbicidas e adubação de cobertura.
No próximo mês de abril acontece a coleta de folhas das mandiocas consideradas saudáveis e livres de pragas como o mosaico (causa queda na produção), que serão enviadas à Universidade Federal de Lavras (MG), para análises sobre a sanidade. Depois os melhores exemplares serão enviados para a Embrapa Cruz das Almas (BA) para produção de mudas em laboratório. A próxima etapa é o cultivo dessas mudas “sadias” no campo experimental em Pedro Afonso e quando estiverem no tamanho ideal as manivas serão doadas, sem custos, aos pequenos produtores que cederam as espécies e para outros interessados.
Conforme Fernando Teixeira, a previsão é que a distribuição de melhores mudas comece em novembro deste ano.
A pesquisa sobre os melhores exemplares também leva em conta qual mandioca é melhor em cada tempo do ano ou safra. Então, com esse conhecimento será possível indicar ao produtor rural o período adequado para plantio.
“Não vamos mexer na forma do agricultor cultivar, mas fornecer assistência técnica e variedades livres de pragas”, comentou Fernando Teixeria, dizendo também que para incentivar a produção consorciada e a diversificação da produção agrícolas estão sendo cultivadas banana, abacaxi, cupuaçu, café, jiló e quiabo. Em breve serão plantadas variedades de maracujá, manga e limão, cedidas pela Embrapa.
Aumentar a produtividade
A produtividade de mandioca na região é abaixo da média nacional, mas existe possibilidades para aumentar e diversificar essa produção, o que é um dos objetivos do Reniva, conforme garante o superintendente da Coapa e um dos incentivadores do projeto, José Rander Lopes “A intenção é criar mais alternativas para os produtores de pequeno porte e até mesmo os grandes de diversificarem as culturas. Pretendemos trazer materiais genéticos melhores”, comentou José Rander.
“Temos discutido a necessidade de se apoiar projetos para fabricação de farinha, polvilho e outros derivados da mandioca. Criar condições de produção. Por isso fomos buscar materiais genéticos de qualidade e assistência técnica especialidade com parceiros. Pretendemos que o poder público municipal também apoie, por exemplo, cedendo adubo e calcários aos agricultores familiares”, completou Rander.
“As mudas serão doadas aos produtores de mandioca, nas épocas mais adequadas para iniciar os plantios, ou seja, no início das primeiras chuvas. O produtor da agricultura familiar passa a contar com o principal insumo no processo produtivo, que é a maniva-semente, com origem genética e qualidade fitossanitária comprovada a custo zero. Isso resulta em sustentabilidade da produção e permite inclusive que se planeje o aumento das áreas de produção e se reduza o risco social desse grande número de famílias que apostam e sobrevivem em função da produção de mandioca”, comentou o analista da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Herminio Rocha.
A partir do momento que aumentar a produção de mandioca será incentivada criação de pequenas agroindústrias para a produção de farinha e outros produtos para consumo das famílias de agricultores e comercialização, garantindo mais uma alternativa de renda. As folhas da planta poderão ser utilizadas para a silagem e alimentação de animais e na fabricação da multimistura para alimentação humana. “O plantio consorciado com milho, arroz, feijão, abobora, abacaxi, entre outras culturas, está sendo introduzido na produção agrícola. Assim, o pequeno agricultor terá farinha, grãos e frutas para alimentar a família e também comercializar”, vislumbrou o técnico Fernando Antônio Teixeira.
O presidente da Coapa, Ricardo Khouri, destacou que a organização da cadeia produtiva da mandioca vai beneficiar, sobretudo, o agricultor de pequeno porte com uma alternativa de rentabilidade. “A Coapa tem entre seus associados vários agricultores familiares e nosso foco é beneficiá-los com as manivas selecionadas e assistência técnica especializada. Assim, terão melhores condições para aumentar a produção e obter renda”, explicou.
Reniva pelo Brasil
O Reniva é um projeto já aplicado em várias partes do Brasil. Bahia, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Sergipe e agora Tocantins são os estados que participam da rede de multiplicação e transferência de manivas-semente de mandioca com qualidade genética e fitossanitária.
Essa rede foi inaugurada em 2009 e desde então dispõe de mais de 3,5 milhões de mudas com qualidade comprovada.