Fonte: Portal CT
Novamente apenas com deputados de situação presentes, o secretário-chefe da Casa Civil, Renan de Arimatéa Pereira, leu na noite desta sexta-feira, 4, em sessão extraordinária da Assembleia Legislativa, a mensagem, de número 20, de renúncia do governador Siqueira Campos (PSDB). Ele afirmou no curto texto seu "propósito de continuar servindo ao bravo povo tocantinense" e que "foi um privilégio e uma grande honra ter servido ao Estado do Tocantins". Também foram à Assembleia com Renan o ex-secretário de Relações Institucionais Eduardo Siqueira Campos e sua esposa, Polyanna Marques Teixeira.
Era o quarto mandato do governador Siqueira Campos, que voltou a comandar o Palácio Araguaia depois de uma histórica disputa judicial contra o ex-governador Marcelo Miranda (PMDB). Após o rompimento da União do Tocantins, o poderoso grupo siqueirista que comandou o Tocantins por quase duas décadas - com pequeno intervalo de quatro anos entre 1990 a 1994 -, Marcelo Miranda migrou para o PMDB e, em 2006, disputou a reeleição com seu ex-aliado Siqueira, que perdeu, mas ingressou com um Recurso Contra Expedição de Diploma (Rced), acusando o adversário de abuso de poder econômico, político e de uso dos meios de comunicação.
Durante todo o período de 2007 a 2009, Siqueira se recolheu em Brasília para acompanhar o andamento do recurso e nunca deixou de afirmar que voltaria ao governo. Por conta do Rced, em julho de 2009 Marcelo foi cassado por unanimidade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas não como os siqueiristas gostariam. Porque em setembro daquele ano, o então governador do PMDB foi afastado pela Corte Eleitoral, contudo, com previsão de eleição indireta na Assembleia e não posse do segundo colocado, Siqueira, como esperavam os utistas.Com o afastamento de Marcelo, assumiu o então presidente da Assembleia, Carlos Gaguim (PMDB), que foi eleito governador ainda em 2009 numa eleição indireta no Legislativo.
Sem o cargo de volta, Siqueira viu vários aliados deixá-lo para se unir ao novo governo. Gaguim ficou com o apoio de quase todos os deputados estaduais, inclusive, com a maioria dos utistas na Assembleia.
Houve, então, uma pressão para que Siqueira também se aliasse a Gaguim, na época já afastado de Marcelo Miranda, e disputasse uma vaga de senador. Em várias ocasiões, o líder utista avisou a quem quisesse ouvir: "Não quero cargo, quero de volta o que me foi roubado, o governo do Estado".
UMA NOVA BATALHA
Então, Siqueira iniciou uma nova batalha. Depois da judicial, a eleitoral. A primeira aliada em torno de uma candidatura dele a governador em 2010 chegou logo depois da posse de Gaguim no Palácio Araguaia, a senadora Kátia Abreu (PMDB). Na época, descontente com a divisão das secretarias por Gaguim, ela também optou pela oposição ao governo e foi abandonada pelos aliados na Assembleia. Para Kátia ser recebida, Siqueira aceitou extinguir o nome histórico de seu grupo, União do Tocantins, e foi criada a coligação Tocantins Levado a Sério.
Em abril de 2010, o grupo em torno de Siqueira Campos se fortaleceu com o apoio anunciado pelo senador João Ribeiro (PR). Depois alguns deputados estaduais, como Marcelo Lelis (PV), também voltaram à base do que um dia foi a UT.
Numa campanha marcada por denúncias contra o governo Gaguim, Siqueira venceu com uma diferença de mísero 1 ponto percentual, ou cerca de 7 mil votos.
COBRANÇAS E CRÍTICAS
No governo, já nos primeiros meses, começaram as cobranças sobre a promessa de transformação do Estado, e não demorou muito para as críticas aparecerecem. Sentindo-se esquecidos por Siqueira, aliados históricos do grupo se afastaram. O governador reclamava da situação financeira que teria herdado de dois governos do PMDB e chegou a dizer, em determinado momento em 2012, que era apenas "um gerente de folha".
Em setembro do ano passado, foi a vez de a senadora Kátia Abreu também anunciar que estava aderindo à oposição. Ela deixou o PSD, que passou para o comando do filho, o deputado federal Irajá Abreu, e ingressou no PMDB.
A renúncia de Siqueira tem o objetivo certo de criar condições jurídicas para que seu filho, o ex-secretário estadual de Relações Institucionais Eduardo Siqueira Campos (PTB), dispute o governo do Estado.
Aliados ainda acreditam na possibilidade de Siqueira disputar a vaga de senador. Se não se confirmar, esse mandato pode ter sido o último do líder tucano, após mais de 50 anos de vida pública, iniciada em Colinas, em 1965, quando se elegeu vereador. Em 1966 foi eleito deputado federal, cargo para o qual foi reeleito sucessivas vezes até 1988, quando, depois de encabeçar a luta pela criação do Tocantins, se tornou o primeiro governador do novo Estado. Ficou até 1989, foi eleito governador novamente em 1994 e reeleito em 1998. Naquele ano também renunciou ao mandato para disputar as eleições.
Confira a íntegra da carta:
Carta aos Tocantinenses
Do meu supremo amor pelo Tocantins e pelo povo tocantinense
Meus amigos e minhas amigas,
Todos vocês sabem do amor que nutro pelo nosso Tocantins.
Tudo começou há cinquenta anos atrás quando, no dia 10 de julho de 1963, cheguei a Colinas de Goiás como empresário rural. A absoluta ausência do poder público na região marcou-me profundamente. Sofri perseguição dos poderosos de então e indignei-me com o descaso aos menos favorecidos. Doía-me ver jovens mulheres morrendo de parto por falta de assistência médica. Minha mãe, dona Regina, falecera por esse motivo no interior do Ceará aos 37 anos de idade.
Faltava de tudo no então norte goiano: os lares eram iluminados por lamparinas. Os grupos geradores movidos a óleo diesel instalados em poucas cidades da região funcionavam, quando muito, até as 22:00 horas. Não havia estradas. A construção da Belém-Brasília estava apenas começando. As grandes vias de integração eram os rios Tocantins e Araguaia e a aviação aérea regional. Havia agências bancárias apenas em Pedro Afonso-GO e Carolina-MA.
Tudo isso me motivou a ser candidato a deputado federal em 1970 após ser eleito vereador da recém emancipada Colinas de Goiás com o maior número de votos em 1965. Na época, fui escolhido para ser o presidente da Câmara Municipal.
Retomamos a luta pela criação do Estado do Tocantins, paralisada à décadas. Por 23 anos (de 1971 a 1988), encampamos este movimento na Câmara dos Deputados e junto ao povo nortense até a vitória final com a inclusão da criação de nosso Estado nas Disposições Transitórias da Constituição Federal promulgada em 5 de outubro de 1988. Nossa luta não foi em vão.
Eleito Governador, o primeiro do Tocantins para um mandato tampão de 1º de janeiro de 1989 a 15 de março de 1991, realizamos vinte anos em dois, criando e consolidando as Instituições do Estado, implantando a sua malha viária asfaltada, estruturando a saúde pública (em 1989 havia apenas 43 leitos públicos em toda a região), expandindo os serviços de energia elétrica com a construção de 70 mil quilômetros de rede distribuição e o fornecimento de água tratada à grande parte de nossa população, além de promover ações que fizeram levar o Ministério de Minas e Energia realizar as licitações das hidrelétricas do Lajeado, Peixe Angical, Santa Isabel no rio Araguaia, Estreito e São Salvador.
Construímos também Palmas, a última cidade planejada do século XX, que entreguei com todos os poderes públicos nela instalados.
Nos dois outros governos que tive a oportunidade de exercer, de 1995 a 2002, estruturamos de vez os caminhos para que o Tocantins se desenvolvesse com a força da Livre Iniciativa e com a prática da Justiça Social por parte do Governo do Estado.
Deixamos dezenove hospitais públicos estaduais implantados atendendo a todas as regiões do Estado, agora com mais de dois mil leitos. É bom lembrar que eram apenas 43 em 1989, em apenas 2 hospitais, um em Araguaína e outro em Porto Nacional, com apenas um médico em cada e atendimento precaríssimo. Deixamos grandes programas econômicos agora em funcionamento nas diversas áreas, especialmente no agronegócio, e investidores importantes preparados para vir para o Estado, aguardando apenas o sinal verde da administração pública, com um programa de incentivos fiscais e política ambiental das mais avançadas do país.
Mais de seis mil quilômetros de estradas asfaltadas colocaram o Tocantins em primeiro lugar no Brasil no setor. O aproveitamento hidrelétrico do Rio Tocantins está avançado com a Usina Luis Eduardo Magalhães em funcionamento e outras usinas licitadas. Também há os Pioneiros Mirins, os médicos cubanos, a energia rural. Hoje esse é um Estado com índices recordes de crescimento apesar das dificuldades do Brasil e do mundo.
Sentia-me um homem realizado, com doce sensação do dever cumprido. Enfim teria tempo para dedicar aos filhos, aos pássaros e paisagens do nosso Tocantins que tanto amo.
Entreguei o Estado ao sucessor por mim apoiado com a esperança que os tempos de progresso continuariam pelo bem de nosso povo, mas o total descompromisso do governo estadual que me sucedeu, com o bem público e com a população mais humilde nos indignou novamente. Foi uma grande decepção, a maior decepção da minha longa vida pública.
Durante oito anos, nenhum novo hospital; a educação, tal qual deixáramos; cidades paradas no tempo; projetos e boas ideias deixadas de lado. Não se falava mais em desenvolvimento. Só em política. O povo descuidado e manipulado pelo clientelismo deplorável.
Com a força do povo voltei ao Governo para cuidar das pessoas, compromisso que tenho e renovo a cada momento da minha vida com Deus nosso a quem sirvo e servirei por toda a minha trajetória de vida material e espiritual.
Encontrei uma situação de terra arrasada, mais do que uma irresponsabilidade, um crime, no limite da intolerância. Dívidas com o Banco Mundial, dívidas com o PIS/PASEP, uma política de pessoal desastrosa que nos faz passar a maior parte do tempo administrando a folha (a qual não atrasamos um dia sequer em todos os nossos governos), mas com a consciência tranquila de que mantivemos e até ampliamos as conquistas dos servidores públicos.
Além desses desafios, enfrentamos uma política econômica caolha do Governo Federal que impôs um ônus insuportável aos Estados e Municípios, especialmente aos mais pobres, nos três últimos anos. Só nos restava erguer a cabeça, reunir forças, planejar o futuro e seguir em frente.
Recuperamos a credibilidade do Estado perante as instituições nacionais e internacionais e fomos em busca de recursos para retomar o processo de desenvolvimento do Estado, que passa pelo fortalecimento dos municípios. Passada a tempestade, nosso esforço por um Tocantins melhor mais desenvolvido e próspero está se concretizando.
Pegamos a educação com crianças estudando no chão, dividindo carteiras e em salas instaladas em tendas de lona. Adquirimos logo no início mais de duzentas mil carteiras escolares para equipar nossas escolas. Hoje, temos mais da metade de nossos alunos estudando em tempo integral (muito acima da média nacional), construímos novas escolas, ampliamos muitas das existentes e equipamos todas elas. Mais de oitenta mil tablets e notebooks foram distribuídos aos professores e alunos da rede estadual de ensino, incluindo-os na era da informática.
O Tocantins é o Estado brasileiro que mais investe em saúde, segundo comprova o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE. As ampliações do Hospital Geral de Palmas, de Paraíso, de Miracema, de Augustinópolis (em processo de construção avançado), de Alvorada e do Hospital Materno-Infantil de Palmas foram licitadas, e a construção dos novos hospitais gerais de Araguaína e Gurupi com obras iniciadas. Um anexo com cem leitos climatizados foi construído no Hospital Geral de Palmas, proporcionando melhores condições de atendimento aos pacientes. Centenas de novos equipamentos médicos foram adquiridos para a rede de saúde púbica do Estado.
As Carretas da Saúde da Mulher já atenderam mais de quarenta mil pacientes nas diversas regiões do Tocantins. Os médicos estrangeiros voltando a atender bem pertinho das pessoas, por mais longe que elas estejam.
Na área social, mais de 250 mil famílias foram beneficiadas com os programas Tocantins sem Fome, Pioneiros Mirins (hoje migrando para as escolas de tempo integral) e Troca Solidária.
A seca no sudeste está sendo combatida de forma definitiva com a instalação de mais de doze mil cisternas, e a chamada seca verde em outras regiões está sendo enfrentada com poços artesianos e sistemas de água tratada e encanada onde, pasmem, até hoje não existia.
A face municipalista de nosso Governo está presente no PAM – Programa de Apoio aos Municípios. Esse programa disponibiliza patrulhas mecanizadas que já recuperaram mais de onze mil quilômetros de estradas vicinais. Com o Pró-Municípios, serão construídos, ou reconstruídos, cinco milhões de metros quadrados nas cidades tocantinenses, adquiriu e entregou 390 ônibus escolares para atender os estudantes das zonas rural e urbana e concedeu o ICMS ecológico, que premia os municípios que investem na preservação do meio ambiente, incentivo criado pelo meu Governo em 2002.
A infraestrutura rodoviária do Estado foi totalmente destruída nos oito anos anteriores à nossa Administração. Mais de dois mil quilômetros foram recuperados já no primeiro ano deste Governo em 2011. O trecho entre Dianópolis e Campos Belos-GO, beneficiando a região sudeste, está sendo reconstruído pelo Exército Brasileiro a serviço do Governo do Estado. Mais de três mil quilômetros serão reconstruídos em todo o Estado a partir do término da estação chuvosa brevemente.
Em breve, também, teremos a homologação da licitação para construção da nova ponte de Porto Nacional.
Nestes três anos, centenas de quilômetros de estradas asfaltadas em diversas regiões do Estado foram construídas, e as pontes sobre o rio Tocantins em Lajeado e Barra do Ouro concluídas.
Pela primeira vez na história do nosso Estado do Tocantins e, de forma inédita no Brasil, vamos construir ou reconstruir 100% da malha viária urbana em todas as cidades tocantinenses com recursos garantidos.
A economia do Tocantins tem crescido o dobro da média nacional nos últimos três anos, e o setor agrícola é o grande exemplo. Nossa safra de grãos praticamente dobrou no período e deverá continuar se expandindo fortemente com a implantação de projetos de agricultura irrigada como os projetos Prodoeste, São João, Gurita e Manoel Alves. Grandes indústrias veem se instalando, como a Itafós, em Arraias, a Petrobrás e a esmagadora de soja da Granol, em Porto Nacional, e a maior planta de beneficiamento de arroz da América do Sul, do arroz Tio João, em Lagoa da Confusão; ou se expandindo, como a fábrica de cimento da Votorantim, em Xambioá.
A hidrovia Tocantins começa a ser tornar realidade. A ferrovia já se movimenta. A Belém-Brasília enfim será duplicada no sentido Sul-Norte.
Nossa capacidade de transformar discursos e lutas em realidade não pode mais ser questionada. Um olhar no tempo revela que nada parece ser impossível quando se tem um olhar para o futuro e quando se coloca o interesse público em primeiro lugar.
Lutei mais uma vez com dedicação para recuperar o Tocantins e deixá-lo novamente em condições de seguir o seu belo caminho de desenvolvimento econômico com inclusão social, exemplo para o Brasil. O Tocantins voltou a falar em projetos. Voltou a sonhar e falar de futuro, que estamos construindo.
Deixo o Governo na certeza de que o entrego em mãos comprometidas com o desenvolvimento do Estado e com o bem-estar de nosso povo, na confiança de que junto com seus nobres pares, haverá de tomar as melhores decisões com a responsabilidade de quem tem compromisso com Deus para construir o futuro, com os grandes projetos que estão encaminhados, como as regiões metropolitanas de Palmas, Araguaína e Gurupi e o metrô elevado de Palmas, que integrará no futuro toda a região através de rodovias duplicadas a partir de Porto Nacional, Paraíso, Miracema/Miranorte e Aparecida do Rio Negro.
Vou agora me energizar física, mental e espiritualmente para disputar com honra a nova batalha que se aproxima. Deixo o governo, mas não deixo a política até ver cada um desses sonhos realizados e a nossa gente bem cuidada ou até ser chamado pelo Deus que sempre abençoou esta terra. Com o coração compassivo, resplandecente de amor de nosso irmão e messias Jesus Cristo e a luz urgidora do Espírito Santo de Deus, integro-me à luta, sem lenço nem documento, mais inteiro nos meus compromissos, para mais uma vez me colocar à disposição daqueles inconformados que não aceitam viver e conviver com o estado de pobreza, de desigualdade, de atraso e injustiça que ainda castigam parte do nosso nobre e generoso povo.
Sonhar e lutar são as marcas entranhadas nos nossos ideais, nos nossos sentimentos.
Tocantinenses, a luta continua.
Palmas, TO, 04 de abril de 2014.
JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS