Educação e Cultura

COLÉGIO AGRÍCOLA

Uma luz no fim do túnel

06/05/2014 08h31 - Atualizado em 07/05/2014 10h33

José Edgar de C. Andrade
Engenheiro Agrônomo
Ex-Diretor do Colégio Agrícola
Ex-Prefeito de Pedro Afonso


Jornais e mídia eletrônica de Pedro Afonso e região têm estampado em suas páginas noticías sobre a federalização do Colégio Agrícola Dr. José de Sousa Porto, as quais nos trazem alegria e satisfação. Que notícia! Finalmente! Pedro Afonso, desde 1973, espera esta boa nova, portanto, é motivo para agradecer a Deus e comemorar.

Por ouvir tantos comentários e aspirações no cotidiano após a boa nova, conclui que um bom número da população desconhece o desenrolar da história deste tão famoso patrimônio local. Por dela fazer parte e também ter lutado por tão nobre causa, sinto-me no dever de registrar em breve relato para o conhecimento de todos, sobre a caminhada da referida instituição ao longo de seus mais de 40 anos de existência, em busca de sua federalização. Lembramos que jamais se pode esquecer o saudoso e inesquecível Dom Jaime Collins, Bispo de nossa Diocese, semeador do grão que frutificou. 

Após longo tempo de solicitações e tentativas de audiências e mais contatos, eis que em 25/08/1982, chega de avião, em nossa cidade uma equipe do Ministério da Educação, vindo de Brasília, chefiada pelo professor Léo Ardenghi, diretor da poderosa COAGRI, (Coordenadoria de Ensino Agrícola) com o objetivo de iniciar o processo de federalização do nosso Colégio. Por uma falha de comunicação, talvez, não houve aviso de sua vinda e por ironia do destino, diretoria, docentes e discentes do Colégio, participavam de evento agropecuário em Miracema. Portanto ninguém aqui para recebê-los. A equipe foi embora com o sentimento de desfeita e com amargas palavras, afirmaram que o Colégio Agrícola teria imensas dificuldades de um dia ser federalizado. Muito triste! Infelizmente ficou registrado em nossa memória.
A luta, porém continuou. Em 1985, novamente chega outra oportunidade.

Estando em Brasília, ocupando função na Diretoria Nacional do INCRA, tivemos conhecimento que o MEC abriria oportunidade para a criação de novos Colégios Agrícolas. Às pressas, fez-se contato com Pedro Afonso e junto com Dr. Mário Sales, na época, gestor desta cidade que também abraçou a causa de corpo e alma, fomos até o Ministro da Educação, Senador Hugo Napoleão. Após ouvir nosso relato, disse-nos que o Ministro Chefe do Gabinete Civil, Senador Marco Maciel, já o havia alertado sobre o assunto, e que a causa era também sua, pois sendo do Piauí, e sabendo que o Colégio acolhia alunos de sua terra, tinha motivos de sobra para comprometer-se. Os alunos da época eram das cidades de Canto do Buriti e Simplício Mendes- PI, na sua maioria, familiares do saudoso Roseno Rodrigues.

Com muita rapidez, montou-se um processo e logo estava ele na mesa do Ministro. Tempo de espera e ansiedade.

Encaminhado para termo de assinatura do Governador Henrique Santillo, (que Deus o tenha) autorizando a transferência do patrimônio do Colégio para o Governo Federal, foi por ele recusado afirmando que o Colégio iria continuar controlado pelo Estado de Goiás. Mais uma vez a sorte nos abandonou!

Uma decepção arrasadora. Ano seguinte, 1986, tempo de eleição para governador em Goiás. O candidato apoiado pelo então governador Senhor Henrique Santillo foi eleito em 236 municípios goianos, sendo derrotado em apenas três e destes, um foi Pedro Afonso. A população, tendo sido vítima demonstrou seu sentimento através do voto, pois naquela época, nesta cidade praticamente toda família tinha alguém passando pelo Colégio Agrícola. Mas a luta não pára, o sonho continuou de pé.
Ano de 1987. Nova informação que o MEC estaria projetando a implantação de um Colégio Agrícola na região. Novamente fomos atrás e encontramos o nome de Pedro Afonso bem situado no projeto. Uma luz brilha!

De repente a situação mudou e chega a informação que o Colégio iria para Araguatins. A luz se apaga. Ocorreu que uma instituição federal localizada em Araguaína, o GETAT (Grupo Executivo de Trabalho do Araguaia - Tocantins) na época dirigida por militares, escolheu aquela cidade por questões de Segurança Nacional, pois o Bico do Papagaio sofria vigilância intensa. Ali era área de conflitos políticos e fundiários.

Novamente, o gosto amargo da derrota. Mas, não se desiste. Enquanto isso, a carruagem não para e com direção, funcionários e professores competentes e incansáveis, alunos cheios de energia e coragem as atividades se realizavam e a cada ano mais uma turma se formava.

1988! - Criação do Estado do Tocantins! Esperanças renovadas! Acreditou-se que por ser a mais velha e importante escola de ensino agrícola do Estado, com tamanha estrutura para o pontapé inicial, uma faculdade de Agronomia ou Veterinária recairia em Pedro Afonso, sem sombra de dúvidas. Ledo engano! Faltou-nos força política para trazê-la para cá. Desistir, jamais!

Vários e grandes diretores deixaram suas marcas durante esta caminhada, alimentando o mesmo sonho lutando por esta conquista.

Ano de 2000. Voltamos à direção, após recebermos a promessa que o mesmo seria transformado em uma escola de primeiro mundo, segundo palavras do governador da época. O anúncio foi animador e revolucionário. Encerram-se as atividades escolares, forma-se a última turma daquela caminhada. Inicia-se uma reforma e (ou um desmanche), ampliação. É dessa época as novas construções existentes, como administração, laboratórios, salas de aula, ginásio de esporte, refeitório, entre outros espaços. A parte velha, demolida ou desgastada pelo tempo, apaga um passado produtivo e marcante, mas continua viva e firme testemunhando o desfecho da situação. Novamente fomos alcançados por problemas alheios à nossa vontade e os trabalhos de reforma e ampliação foram paralisados. De lá para cá, após anos estagnado o Colégio renasceu, da letargia graças a uma parceria com a Bunge que injetou novo ânimo, com a criação de novos cursos ligados ao setor sucroalcoleiro, criando uma expectativa de melhorias.

Agora, novo capítulo! Explode mais uma vez a notícia da transformação do Colégio Agrícola, desta vez em uma unidade do IFT-TO. Aguardamos mais de 40 anos, esse fato é a concretização de um sonho! Não conseguimos o êxito dessa conquista, mas a satisfação é a mesma. Que Deus abençoe, faça permanecer e frutificar esta semente.

Fica apenas uma preocupação e interrogações! E as páginas históricas da Instituição como Escola Agro Artesanal, Colégio Estadual Agrícola de Pedro Afonso, Colégio Agrícola Dr. José de Souza Porto, onde ficam? Seu passado de dificuldades imensas, memórias, derrotas, (muitas), vitórias, conquistas que tanto bem fizeram ao povo e às famílias desta terra e de outros rincões, se perderá no tempo? Morrerá? Irão para a vala do esquecimento? Certamente seus mais de 1500 alunos formados, hoje cidadãos espalhados por esse Brasilzão, muitos já de cabeça branca, terão simplesmente sua história deletada, ficando apenas na memória daqueles que o amavam, assim como nós!





  

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