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Moradores acusam imobiliária de destruir construções sem aviso prévio

30/03/2014 19h22 - Atualizado em 01/04/2014 14h31

Rafaela Mazzola e Fred Alves

Um grupo de famílias que residem em uma área invadida e tem construções ao lado do Loteamento Canavieiras, em Pedro Afonso, denominado pelos moradores como Setor Canadá, relataram que na madrugada deste domingo, 30 de março, duas retroescavadeiras teriam derrubado casas, galpões, cercas e danificado plantações de mandioca sem aviso prévio. A área teria sido adquirida, recentemente, pelo Grupo Saudibras, do qual o Loteamento Canavieiras faz parte.

Ainda na madrugada os moradores acionaram a Polícia Militar que foi até o local e segundo fontes, conversaram com os operadores das máquinas, que teriam saído em seguida.

Cerca de 60 moradores se reuniram na tarde deste domingo para conversar sobre o assunto e decidir os próximos passos. Segundo eles, foram destruídas em torno de dez casas, além de outros danos.

Comunidade está indignada
O lavrador Osivaldo Miranda da Silva, 56 anos, disse que foi até a Polícia Militar, que o orientou para ir à Polícia Civil na próxima segunda-feira, 31, e registrar Boletim de Ocorrência.

“Parece que conversaram com três pessoas e disseram que iriam comprar o local. Mas não tem só isso de gente aqui. Era só ter chamado a gente para conversar”, disse o lavrador.

A secretária do lar Lucia da Silva, 29 anos, relatou que estava construindo uma casa de cinco cômodos e havia investido mais de R$ 6 mil. “Passei três anos juntando dinheiro para construir um lugar para sair do aluguel e ter onde ficar com os meus filhos. Estava quase pronta e derrubaram”, pontua Lucia.

Uma das corretoras da empresa teria assegurado para ela que a casa não seria derrubada. “Ela me disse que assim que a empresa estivesse com os dados em mãos do loteamento, iriam conversar comigo e discutir valores, que eu não teria prejuízo”, complementa.

A dona de casa Edileusa Alves Cunha, 23 anos, disse que não estava no local durante o fato. “Passo a semana em Tupirama para meus meninos poderem estudar, porque não encontrei vaga para eles aqui. Fico lá na casa dos outros e no final de semana venho para cá, mas eu não estava aqui hoje. De madrugada me ligaram dizendo o que estava acontecendo e vim para cá de manhã”, conta Edileusa.

Ela, o marido e os três filhos passavam o final de semana em uma cobertura de palha, que teria sido destruída pelas máquinas na madrugada. “Já imaginou se eu e meus meninos estivéssemos aí dentro? Por que não reuniram a gente e pediram para desocupar? É uma falta de respeito”, disse a dona de casa.

“Não foi avisado e mesmo se tivessem avisado, teriam que ter dado um tempo. Segundo estou sabendo, não tinha ordem judicial. Vamos lutar por justiça”, disse a dona de casa Marisvânia de Castro Ribeiro. Ela disse que mora no local desde julho de 2013 e a empresa teria feito o mesmo procedimento em fevereiro deste ano.

Vereador vai solicitar informações da empresa
O vereador Mirleyson Soares Dias (PT) esteve na reunião e disse que vai entregar a empresa um ofício solicitando a presença do proprietário ou responsável na próxima audiência da Câmara Municipal de Pedro Afonso para dar explicações. “Tem muita coisa errada. Vão ter que apresentar mandado”, cita o parlamentar.

Dias também informou que todos os moradores também vão comparecer na Sessão.

PM não constatou denúncia
A Polícia Militar foi acionada por meio de denúncia anônima informado que casas estavam sendo derrubadas no local por volta das 1h20 deste domingo. No Boletim de Atendimento da PM consta que a viatura foi até lá, encontrou nas proximidades duas retroescavadeiras deixando a pista e os operários foram questionados.

Os dois disseram que uma das máquinas havia ficado atolada no local e que somente naquele horário havia conseguido sair com o apoio da outra. Também relataram que não estavam derrubando casas.

De acordo com o Boletim de Atendimento, a PM fez o patrulhamento e não constatou a denúncia e nem com quem tratar sobre ela.

A PM retornou ao local na tarde deste domingo a pedido dos moradores e foi feito outro Boletim de Atendimento, esse com relato de danos materiais. Segundo o Boletim, consta que dois tratores equipados com lâminas entraram em construções erguidas em um loteamento irregular e causaram danos, tais como destruição de paredes de 1,5 metro, cerca de 1.500 telhas, casa de madeira coberta de telha da marca Brasilit e galpão com armação de madeira e coberto de palha.

Os moradores foram orientados a procurar a delegacia para as medidas cabíveis.

Escrivão não está na cidade
De acordo com a Polícia Civil, os moradores estiveram na delegacia na tarde deste domingo para registrar o Boletim de Ocorrência, porém o escrivão está no município de Itacajá. Assim, os policiais orientaram que o grupo retorno na manhã desta segunda-feira para fazer o registro.

Empresa vai se manifestar amanhã
A equipe do CNN entrou em contato por telefone às 15h31 com a gerente do loteamento Canavieiras, Márcia Lucia Sousa, que informou que o Grupo Saudibras vai se pronunciar amanhã.

O CNN também enviou um e-mail às 16h33 para a gerente relatando novamente a versão dos moradores e informando que a matéria seria publicada e que o espaço permaneceria aberto para a Saudibras.

Em outro e-mail, Obeid Binzargr, responsável pelo Grupo Saudibras, afirma que não houve tempo hábil e interesse do CNN de ouvir a versão da empresa. Em resposta a reportagem do CNN informou que desde o primeiro momento o grupo foi procurado.

Na mensagem seguinte, o CNN reforçou que o espaço continua aberto. Essa matéria foi publicada às 19h10 deste domingo.
 

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